Uma das grandes ironias da história humana é a eterna fuga das responsabilidades. Em pleno Século XXI, em que praticamente temos tudo à mão, a maioria das pessoas continua nesse subterfúgio desenfreado, apesar do que Nietzsche já dissera sobre a evolução das ciências, que propiciou e propicia o conforto até mesmo aos covardes. Essas pessoas parecem não entender que a responsabilidade é item vital no crescimento humano, seja no campo pessoal ou no profissional. Pois só crescemos de verdade assumindo as responsabilidades que surgem feito desafios - alguns, até aparentemente insuperáveis - no nosso dia-a-dia. É isso mesmo! Esses desafios surgem sim, diariamente, apesar da nossa quase cegueira diante da rotina e monotonia diárias. Imersos que nos encontramos em repetir as atividades que já estamos condicionados a fazer corriqueiramente, seja em casa ou no trabalho. Assim, nesse estado natimorto e anestesiado em que geralmente permanecemos, não vemos as oportunidades de crescimento surgirem constantemente à nossa frente. Elas podem estar naquela pequena tarefa doméstica que relutamos em fazer, seja a troca de uma torneira ou de um bocal de lâmpada, ou naquela atividade que fazemos de forma morna e distanciada todos os dias no nosso serviço e que, parece, ninguém percebe. Quanto à primeira, depois que conseguimos fazê-la, acabamos mais forte, pois enfrentamos um desafio e somamos conhecimento, o que nos torna mais autoconfiantes diante de problemas similares. No serviço, não é diferente. Pois se realizarmos a atividade com empenho e dedicação, além de também somarmos autoconfiança, as pessoas vão começar a perceber e, quem sabe, num instante qualquer, a nossa promoção ou até um novo e melhor emprego pode surgir na nossa vida. Mas esse é o saldo de uma civilização que há quase um século parece ter tudo num estalar de dedos: uma fuga constante do ônus, mas estranhamente uma louca e incansável busca pelo bônus. E simplesmente porque é no primeiro que reside o verdadeiro sentido de liberdade, que só é conquistada quando assumimos as nossas intransferíveis responsabilidades. Eis aqui a ironia da vez.
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