Haverá ainda solidão depois que o homem inventar sua última invenção? Teremos descoberto a essência do amor antes que os derradeiros amantes dêem seu último bocejo? Seremos algo tão justo e sereno como o cão, antes de roermos o último osso? Qual a temperatura ideal do paraíso? Se o clima for tropical, teremos de isolar os esquimós? Quando estivermos lá no céu, Jesus reinará sobre os homens bons? Por que, se todos serão bons? Um certo filósofo não afirmava que um reino só se sustenta enquanto há homens maus? Caminharemos sobre as águas antes que passemos a duvidar da santidade que um dia adivinhamos em nós? Comeremos camarões depois da súbita revelação de que eles sabem coisas que não sabemos? Encontraremos o ponto de equilíbrio, nem cômico nem trágico, situado entre a piada e a poesia? Em que bases se consolidarão os conhecimentos, tão logo se dissolva o último cérebro? E o que faremos com a partitura invisível, que guarda pelos séculos a eletrizante música dos vendavais? O futuro tem infinitos caminhos, que convergem para um caminho único quando ele se torna presente.
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