Olha o trem Ele passou... Simplesmente partiu como um trem na estação com as janelas fechadas. Não mostrou o olhar, deixou-o preso aos trilhos futuros, a alguma incerteza, à própria sombra... Suas palavras distantes perdiam-se num horizonte de murmurinhos... Talvez, talvez, talvez... De repente, uma partida rasga as horas e deixa os dormentes feridos, sussurrando um som triste, sem refrão, sem retorno, como um poema sem rima à margem dos trilhos... Baldeação Caminhos lentos ao terminal. Passos alongam-se em sombras descansadas. A luz da rua denuncia o cansaço, encardida acompanha o olhar que se aproxima de mais um destino, refletida acusa a noite à revelia, escancarada estampa os rostos desvalidos na rotina de ir e vir... Talvez uma baldeação. Passa um caminhão de lixo apressado e interrompe a desatenção, mas os passos solitários permanecem a caminho do terminal... O trem Distancia-se da estação. Caminhos cicatrizados não apresentam novos horizontes. Atravessa pontes quase virgens numa natureza selvagem esquecida da civilização, trilha dias encarrilhados numa sucessão de vir a ser e amanhecer... Por instantes, sente sair do trilho e perder o rumo com a memória presa aos passados dormentes. Desprende-se, mas, com um nó atado no silêncio, continua o trajeto com os olhos nublados sem saber para onde... Ainda baldeação Agora as ruas estão desertas. O terminal quase apagado parece abandonado. Um caminhão-pipa passa e deixa seus rastros umedecidos na rua quando já não há alma seca a ser hidratada. Tudo parece deserto quando, ao longe, faróis ressaltam o movimento de um carro em seu destino. Quem sabe uma baldeação... ... Uma partida rasga as horas e deixa os dormentes feridos, sussurrando um som triste, sem refrão, sem retorno, como um poema sem rima à margem dos trilhos... Talvez, talvez, talvez...
|