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Opinião
27/11/2005 - 13h43
Política externa leninista
Ipojuca Pontes - MSM
 

Se não fosse a política externa marxista-leninista adotada pelo chanceler (de fato) do Planalto, Sr. Marco Aurélio Garcia, assessorado de perto por Celso Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães, os acólitos esquerdistas do Itamaraty, é bem provável que as vendas internacionais do Brasil ultrapassassem, em 2005, a casa dos 300 bilhões de dólares - e não apenas os ventilados US$ 100 bilhões registrados em novembro. O Brasil, como se sabe, é um dos principais exportadores de produtos agrícolas de todo o mundo, com destaque para a venda de carne bovina, frango, soja, açúcar etc., sem falar em calçado, gasolina, minérios de ferro e ligas de alumínio, mercadorias que os países desenvolvidos estão comprando em escala até então inimaginável.

A bem da verdade, advirta-se que a prioridade da atual política externa não é, como pode pensar a maioria dos analistas, o de ampliar o comércio e as relações exteriores, a exemplo do que fazem China, Índia, França ou Estados Unidos mas, sim, o de adensar a política externa de conflito consagrada por Fidel Castro e o troglodita Hugo Chávez no Foro de São Paulo, cujo objetivo irremediável é, ao lado de fomentar estreitas relações com países do Terceiro Mundo, todos caloteiros, cultivar o mais ostensivo anti-americanismo - anti-americanismo que incorporou, na prática, o recente boicote ao acordo de criação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), uma saída racional para uma nação que, segundo o Banco Mundial, detém desempenho abaixo do medíocre (hoje, no universo de 155 países, na 119ª colocação no ranking dos negócios internacionais).

Mas, se de um lado a política anti-americanista rende dividendos ideológicos entre as fanáticas tribos que compõem o cartel da intolerância totalitária (como evidencia o fracasso da discussão da ALCA na IV Cúpula das Américas, em Mar Del Plata, embora 29 dos 34 países que compõem a área sejam favoráveis ao seu imediato funcionamento), por outro lado, ao contrário do que dizem os atuais mentores da política externa brasileira, não existe nenhuma alternativa em vista para "uma saída" no campo dos negócios internacionais.

Só para ilustrar: em recente reunião da União Européia (UE), ocorrida em Roma, o comissário europeu de Comércio, Peter Mandelson, negou de forma cabal qualquer chance de redução de subsídios para os produtos agro-pastoris nos países que representa, ao tempo em que exigiu do Mercosul a liberação dos setores auto-motivo e de máquinas, além da abertura nas compras do setor público e de serviços, o filé mignon do negócio. (Vale lembrar que uma vaca da baixa Normandie recebe subsídio mais elevado do que o salário pago ao trabalhador qualificado latino-americano).

Em Genebra, dias mais tarde, Celso Amorim - que viaja muito e resolve muito pouco, ou nada - afirmou que o mesmo Peter Mandelson, o Comissário da UE, fez-se de "mouco" às propostas brasileiras para a redução dos subsídios agrícolas praticados pelos países ricos. Disse Amorim (que recebe diárias em dólar quando viaja): - "Não vi nenhuma reação daqueles que estão dando tamanha ênfase à questão".

O comissário da União Européia, por sua vez, desmentiu que o "ministro paralelo" do governo Lula tenha apresentado o que poderia ser entendido como uma oferta relativa às tarifas agrícolas: - "Amorim não fez qualquer proposta e o que estava sobre a mesa desapareceu. Ele parecia estar abrindo uma porta mas, em seguida, deixou claro que não havia proposta nenhuma". No jogo sofístico da diplomacia, o comissário só faltou afirmar o que todos já reconhecem: Amorim não é do ramo.

No tocante ao encalacrado Mercosul, sempre usado politicamente para justificar o anti-americanismo explícito preconizado por Lula, Hugo Chávez e Fidel Castro, o ministro da Economia Argentina, Roberto Lavagna, a poucos dias de um novo encontro em Buenos Aires, falou abertamente na inclusão de um mecanismo de salvaguardas automáticas (imposição de cotas ou sobretaxas a fim de impedir ou limitar o livre comércio) para proteger as indústrias argentinas das importações de produtos brasileiros.

- "As negociações estão paradas" - garantiu Lavagna. "E se não houver a assinatura de uma cláusula de adaptação competitiva, como nós a chamamos, a reunião será meramente cerimonial".

Aliás, como homem de cerimonial, o ministro do Itamaraty dá suma importância ao fato estético, quem sabe herança de quando era assistente de Leon Hirschmann, o cineasta do "centralismo democrático" no cinema nacional. Com efeito, no tempo em que foi nomeado (e depois demitido) como "homem de confiança" dos militares de 64 para dirigir a Embrafilme, Amorim portava topete, cabeleira bem penteada e vasto bigode, sem falar no uso permanente de ternos formalmente conservadores. Hoje, autêntico camaleão no império do Camarada Lula, Amorim realça, como o chefe do Planalto, os cabelos grisalhos, cortados rentes, barba aparada e se veste informalmente, à moda da casa. Ainda melhor: a retórica diplomática que utiliza deixa transparecer a lógica intransigente do puro leninista que procura justificar os permanentes fracassos com a algaravia da ficção verbal. De fato, pode-se dizer que no exercício pirotécnico de improvisar tolices intransigentes, Amorim atinge a dimensão de mestre.

Talvez seja exatamente por isso que, no momento em que o comércio mundial atravessa instante de prosperidade, o Brasil esteja patinando em índices medíocres de crescimento, indexado ao 3º pior resultado em relação à média de desenvolvimento global dos paises emergentes, segundo dados do professor Reinaldo Gonçalves, do departamento de economia internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O que de modo algum afeta a retórica revolucionária do chanceler Marco Aurélio Garcia e dos acólitos do Itamaraty, inteiramente voltados para o combate ao imperialismo ianque, no melhor estilo cubano-bolivariano.


Nota do Editor: Ipojuca Pontes é cineasta, jornalista, escritor e ex-Secretário Nacional da Cultura.

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