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Opinião
29/11/2005 - 07h43
Comunicação e religião: uma reflexão jornalística
Sérgio Barbosa
 

Nas décadas de 50 e 60 operou-se a consolidação do que hoje se costuma chamar de transnacionalização do capital. O capital transnacional passa a ser o carro-chefe do desenvolvimento de quase todo o Terceiro Mundo. O processo de monopolização, tanto da produção como do comércio internacional se acentua drasticamente.

No plano político, é o período do macartismo e do anti-comunismo exacerbado que interpreta as contradições mais corriqueiras como resultado da oposição Leste-Oeste.

Profundas necessidades de reajustes abalam o capitalismo mundial e em especial o norte-americano. A crise de legitimidade do capitalismo está em fase definitiva de transnacionalização, preocupando importantes setores ultraconservadores.

Ideólogos religiosos - As Igrejas tradicionais (católicas e protestantes) passam por uma profunda crise de resultado como parte da voracidade do sistema capitalista. O sistema não podia esperar dos teólogos e dessas Igrejas o suporte ideológico necessário para manter-se legitimado. Isso abre um flanco para que os novos ideólogos religiosos comecem a assumir posições importantes na legitimação "teológica" do sistema.

É neste contexto que acontece a arrancada de alguns dos importantes tele-evangelistas norte-americanos famosos até hoje: Billy Graham, Oral Roberts, Jerry Falwell e outros.

No final da década de 60 e início dos anos 70, com profundas mudanças nos costumes e na moral, além da humilhante derrota no Vietnã, os EUA passam por grandes transformações e enfrentam profunda crise de identidade.

Neste contexto, em nome da segurança e defesa do "mundo livre" capitalista, se faz valer os interesses das grandes empresas armamentistas. A ciência e a tecnologia passam a servir o grande capital. A segurança é elevada à estratégia transnacional possibilitando chantagear outros sub-pólos do capitalismo (Europa e Japão). A crise de legitimação do sistema desperta boa dose do pensamento religioso apocalíptico.

Os investimentos em armamentos provocam o endividamento dos EUA em níveis nunca imaginados, mas tudo justifica-se. O interesse dos grandes grupos era escamoteado por uma questão de segurança "mundial".

Como a sociedade americana não poderia pagar sozinha a conta da "segurança do mundo", acontece a exportação dos custos, obrigando todo o Terceiro Mundo a participar, via pagamento de juros da dívida externa, dos "investimentos" norte-americanos na área.

A expansão da Igreja Eletrônica nos países latino-americanos se dá exatamente com essa função. De um lado, houve a invasão direta executada por tele-evangelistas que apoiaram Carter, Reagan e Bush, criando assim condições para os nativos desenvolverem programas (ou comprarem emissoras de TVs e Rádios), sempre dentro da mesma perspectiva "teo-ideológica". O sistema capitalista tinha a necessidade de legitimar a exportação das riquezas do Terceiro Mundo para o Primeiro Mundo, com o consentimento dos explorados.

A "Igreja Eletrônica" é a nomenclatura mais utilizada nos EUA, centrada na espetacularidade da televisão. Dessa forma, acabou atingindo também o rádio, tendo como pano de fundo os manejos de técnicas publicitárias e forte carga ideológica.

Foi na América Latina que o termo "Igreja Eletrônica" acabou incorporando um elemento denunciatório de práticas mercadológicas da fé.

Num encontro da WACC (Associação Mundial das Comunicações Cristãs), realizado em 1983, Willian Fore, presidente da Instituição, na época, rejeitou o termo "Igreja Eletrônica" porque os tele-evangelistas, normalmente, não representam nenhuma denominação. Propôs como nomenclatura "Religião Comercial" pois, segundo Fore, o objetivo é puramente de difusão comercial massiva. Outras propostas surgiram, não obtendo maiores adesões, tais como: marketing da fé, messianismo eletrônico, assembléia eletrônica e até mesmo, igreja elétrica. Não entrando no mérito da questão sobre qual o termo mais adequado, apenas expondo algumas idéias neste ensaio, o termo utilizado foi o de Igreja Eletrônica (IE), por considerá-lo de domínio público mais amplo.

No Brasil, é no início dos anos 80 que começam os primeiros estudos sobre a Igreja Eletrônica, com as primeiras publicações em língua portuguesa. Nos EUA o assunto é pauta de estudos desde a década de 60. Ainda hoje, há poucas publicações sobre o assunto IE, e o material disponível no mercado é repetitivo.

O fetiche do capitalismo permeou o pensamento teológico, utilizando-o segundo interesses político-econômicos bem diversos da proposta inicial do cristianismo.


Nota do Editor: Sérgio Barbosa é Jornalista, Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo- UMESP, Chefe do Departamento de Comunicação Social da FAI (Adamantina, SP) e professor da Faculdade Maringá (Maringá, PR).

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