Li crônica de Danuza Leão sobre misoginia (desprezo e aversão às mulheres) publicada na Folha. Ela fala de desencontro e indaga o que estará acontecendo se homens, de verdade, preferem conversar entre si em bares e restaurantes? Imagino que ela trocou a palavra. Talvez desejasse usar, em sentido amplo, misogamia (horror ao casamento). Os homens têm vivenciado que o casamento - ou união - foi sendo, com a liberação e o crescimento das mulheres, transformado numa relação nova, compartilhada e não de submissão. Ficaram tontos, mas nada de horror. Alguns homens podem ter medo da nova mulher, este ser que despontou e que ainda está em processo de montagem final. Ela mexeu com a cabeça dos homens e não houve ainda a sedimentação dessa mudança, tão forte quanto necessária. O choque, que antecede ao ajuste, tem sido mais longo do que o esperado, mais agudo do que a capacidade de absorção masculina pode ter. Que nenhum homem saiba, mas as mulheres parecem mais centradas do que eles. Sabem o que querem, vão às lutas e, quase sempre, conseguem seus objetivos. Por outro lado, a conquista, em sentido amplo, que era privilégio masculino, passou a ser comum de dois. Se ela quer, encara e chega junto. Alguns homens, em resposta, ficam receosos e não sabem reagir com naturalidade a esse mundo emergente. Quando homens se reúnem isoladamente podem estar apenas se divertindo ou, em alguns casos, mostrando que a bebida, a vanglória e o falar alto, são disfarces de sua perplexidade. Nada de horror, aversão ou desprezo às mulheres. A perplexidade vai passar. Em caso contrário, poderia torná-los paradoxalmente, mais distante do real encontro com as suas parceiras. Passará. E chegará num tempo breve em que homens e mulheres não disputarão supremacia, pois terão que reconhecer que são seres distintos, livres, complementares e indispensáveis uns aos outros. E nesse tempo, haverá mais mesas de casais em bares e restaurantes e, em vez, das vozes alteradas, sussurros e afagos que antecederão o prazer do verdadeiro encontro.
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