O noticiário político dos últimos dias deu conta das pressões para a saída do ministro Antonio Palocci. Resumo dos fatos relatados: 1- O único motivo para a saída dele são as denúncias desabonadoras da sua gestão na prefeitura de Ribeirão Preto, as noticiadas e as ainda por noticiar; 2- Lula rifou Palocci, demonstrando que é o único "imexível" na estrutura de poder; 3- Os agentes econômicos enxergam que o verdadeiro fiador da política econômica é Lula, daí mostrarem insensibilidade a uma eventual mudança de ministro; 4- A ala "desenvolvimentista" do governo só se mexeu para dar uma suposta razão interna à sua eventual demissão, camuflando o motivo real, que seria o passado desabonador. Historicamente as saídas dos ministros de Fazenda aconteceram sempre em decorrência de motivos desfavoráveis da conjuntura, seja por crises internacionais, será pela aceleração da desvalorização dos preços e câmbio, seja, ainda, por fatores fortuitos, como aquele ministro que fez comentários insensatos com o microfone da TV Globo ainda aberto. Em alguns casos houve de fato mudança na orientação da política econômica, sendo um exemplo o momento em Delfim Netto assumiu o lugar de Simonsen durante o governo Figueiredo e quando Sarney nomeou Funaro para fazer o Plano Cruzado, pondo os chamados economistas heterodoxos no poder. Nada disso está para acontecer. Se Palocci for apeado do poder será por motivos muito semelhantes aos que tiraram o outrora poderoso ministro da Casa Civil, José Dirceu: razões morais, fatos impeditivos de mantê-lo na figura institucional de ministro. Não percebo qualquer vontade política de mudar aquilo que, de fato, não precisa e não deve ser mudado: a política econômica austera posta em prática. Lula parece ter muita consciência disso, escapando da tentação populista. Os fatos demonstram que há uma surpreendente maturidade na condução da política econômica. A reação dos agentes é perfeitamente sensata, o que é bom sinal. Acho que podemos agora falar em um "consenso do Brasil", pelo qual autoridades oriundas de diferentes grupamentos políticos, quando no exercício do poder, passam a portar-se de forma racional e coerente. Será talvez a única herança benéfica deixada por nosso prolongado período de inflação elevada, das muitas aventuras e experimentos heterodoxos, das chamadas moratórias "soberanas" que só prejuízos deixaram ao País. Fiquei com a sensação de que o presidente Lula percebe a sua política econômica como o que de fato é, sua única âncora com a realidade. Tudo o mais em seu discurso e em sua ação de governo não passa de devaneios ideológicos pueris. Sua política externa é digna de um grêmio estudantil de escolas secundárias. Sua ação social mero populismo temperado com incompetência. Seu governo é uma caricatura. Tanto faz se Palocci ficar ou sair. Para Lula, para mim, para o Brasil. Provavelmente a Procuradoria que lhe investiga os atos administrativos pretéritos fique mais à vontade para a sua ação constitucional. Que pague por seus erros, se os cometeu. É a regra por excelência das democracias, posto que ninguém está acima da lei. Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro é economista e mestre em Administração de Empresas na FGV-SP.
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