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Opinião
01/12/2005 - 17h13
Reflexões em torno de Xavier
Dartagnan da Silva Zanela
 

Os quadrinhos são, na maioria das vezes, vistos pelos adultos com um certo desdém e mesmo com vistas a desqualificá-los como se estes fossem uma expressão cultural de baixa qualidade, provida de um sentido, de uma significação tosca. Confesso que devo discordar de tal posição.

Em primeiro lugar, lembramos que as histórias em quadrinhos e bem como os desenhos animados nada mais são do que uma das muitas formas de mitologia moderna. O papel que a mitologia grega tinha na vida dos Atenienses, a maneira que a mitologia Cristã dos Santos medievais tinha na vida dos homens deste período seria similar a função que os heróis das histórias em quadrinhos tem na vida de muitos jovens.

Bem, e isso seria um sinônimo de degradação moral? Ao nosso ver, de modo algum. O que molda o caráter de uma pessoa não seria em si a imagem que lhe é apresentada, mas sim, o sentido que lhe é inerente. Doloso não seria o fato de termos a exibição de desenhos animados com cenas de simulação de violência, mas o significado que é atribuído a este ato de agressão. Quando um adolescente está a assistir um desenho animado dos X-man, por exemplo, ele não está vendo simplesmente seres fabulosos (os mutantes) a lutarem simplesmente pelo prazer de lutar.

O que se apresenta é um grupo de seres com poderes especiais lutando para defender aqueles que se encontram indefesos diante de certas situações, visto que, todo aquele que possui um grande poder, automaticamente, está imbuído de uma grande responsabilidade para com os seus semelhantes. Semelhantes estes que, na maioria dos casos (no contexto do desenho), desejam aprisioná-los, classificá-los, discriminá-los, insultá-los etc.

Figura fantástica neste contexto mitológico moderno, das histórias em quadrinhos dos X-man, é a figura do professor Charles Xavier. Um mutante com poder o suficiente para destruir a mente de todos os seres humanos (mutantes ou não). Todavia, o que faz? Ajuda outros mutantes a aprenderem a lidar com os seus poderes e com suas dúvidas existenciais e, nas horas vagas, socorre o mundo com o auxílio de seus diletos alunos. E, apesar de o mundo desejar que eles vão para o raio que lhes parta, Charles nutre a esperança de que um dia, apesar de todas as diferenças, humanos e mutantes poderão conviver em harmonia. Desculpe-me, mas de que maneira um desenho animado como este pode banalizar a violência? Que má influência um desenho como este pode trazer a formação moral de um adolescente?

O que banaliza a violência e as injustiças é a forma como nós apresentamos determinadas situações da vida cotidiana para os nossos filhos e a maneira como a perspectiva de futuro acaba sendo construída no imaginário destes.

Pergunto-lhes: como que nós apresentamos a ação dos traficantes e demais bandidos para os nossos jovens? Como que é a imagem de nossos Parlamentares que, em princípio, deveria ser uma imagem de decência e comprometimento para com a sociedade? Como apresentamos a imagem dos narco-guerrilheiros das FARC? Como pintamos para os nossos mancebos a imagem de tiranos como Fidel, Saddam, Arafat (este último, terrorista notório, que, por ironia, era reconhecido como alma generosa e bem intencionada)? Quem sabe, aí, esteja a resposta para nossas inquietações quanto ao cerne do como nós banalizamos a violência em sociedade.

Por essas e outras que o Prof. Xavier é o meu Herói. Por essas e outras, que deposito muito mais esperança nos quadrinhos do que na quadratura sem sentido dos atos e gestos cotidianos que, nem de longe, são uma imitação da dignidade que está nas entrelinhas dos balõezinhos dos quadrinhos.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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