Alguns fatos revelam que o povo brasileiro está se voltando abertamente contra Lula. Para começar, levanto apenas dois, ambos expressivos: 1º) A manifestação de parcela do povo carioca contra Luiz Inácio Lula da Silva e seu governo predador, domingo último, ao longo das avenidas Atlântica (Copacabana) e Vieira Souto (Ipanema), na zona sul do Rio de Janeiro, e 2º) A pesquisa da CNT/Sensus, realizada em 195 cidades de 24 Estados da federação, entre 14 e 17 de novembro, dando conta de que já chega a 50% o índice de desaprovação pessoal do presidente em exercício, um número que traduz o estonteante repúdio dos eleitores ao ex-operário, sobretudo quando se considera que, em 2003, seu índice de aprovação ultrapassou a marca dos 86% - percentual mais ou menos idêntico ao de Collor de Mello, em 1990, quando chegou à Presidência. No caso da manifestação da zona sul carioca, espaço tradicional e caixa de ressonância das reivindicações da população considerada “politicamente correta”, o tom do protesto foi particularmente burlesco: ao som de versões arremedadas de marchinhas de carnaval e em meio às inúmeras faixas com as palavras de ordem “Fora Lulla”, os manifestantes desfilaram com malas cheias de notas falsas, cuecas repletas de dólares, pizzas de isopor e, em maior destaque, fechando o desfile, um largo caixão de defunto com a estrela do PT. Na terra do Carnaval, a comissão de frente da passeata liderada por um sósia de Lula da Silva (trôpego e de garrafa em punho) tinha como atração principal uma noiva fiel, de véu e grinalda, “dona corrupção”, que, em “evoluções” lascivas, levou a platéia ao delírio. (Eu estava lá, vi e fiz anotações). No caso da pesquisa da CNT/Sensus, publicada três dias depois da passeata, a rejeição de Lula por 50% dos eleitores, o pior índice desde a posse, dá a entender que é praticamente impossível a reeleição do atual ocupante do Palácio do Planalto, ainda que o dinheiro de Palocci (aparentemente seguro, quem sabe a partir de encenação armada dentro do Planalto) corra em vertiginosa cascata para corromper a “base aliada” & acólitos nas próximas eleições. O mais instigante da pesquisa, no entanto, foi a notável revelação de que 82,1% dos entrevistados “jamais votariam em nenhum político envolvido em irregularidades”. Some-se a tudo isso a regra básica de que a cada pesquisa de opinião, bimestral, o descrédito de Lula (e seu governo) aumenta num percentual médio de 7 pontos – e, neste caminhar, poderemos chegar ao entendimento de que até meados de 2006 o prestígio eleitoral do atual mandatário poderá ficar reduzido à malta que o acompanha na sangria das benesses oficiais. Diante dos fatos assinalados, a pergunta que se impõe é a seguinte: o que houve? Por que o governo esquerdista de Lula se esfrangalhou por completo em tão pouco tempo? A primeira explicação concreta é a de que a esquerda brasileira sempre representou uma ameaça à nação, manifesto no seu elevado grau de incompetência, desmando, intolerância e prevaricação quando no exercício do Poder. Os exames do meteórico “governo comunista de Natal”, durante a intentona de 35, e da desastrosa experiência de Jango, que culminou com o golpe de 64, dão uma amostra bastante nítida do pressuposto enunciado. Por outro lado, a ingrata revelação, depois da vitória de 2002, de um presidente inapto e, mais que inapto, autêntica ave de rapina, capaz de cometer sem pestanejar qualquer ato ilícito para permanecer no poder, tem levado o mandatário ao descrédito diante do eleitorado que, agora, muito justamente, num misto de descrença e exasperação, o tem na conta de corrupto, preguiçoso, ignorante e debochado. Foi um equívoco tenebroso dos brasileiros e os próprios partidários de Lula falam que foram vítimas de um estelionato eleitoral. Todavia, convém lembrar que já nos tempos de operário e líder sindical, desfeita a imagem mitológica fabricada pelos fanáticos cultores da utopia socialista, a conduta do atual presidente delineava o pirata virulento no convívio com os patrões e, pior ainda, o dissimulado malandrim no relacionamento sempre ambíguo com ministros da ditadura militar, como se depreende dos seus próprios depoimentos ao repórter Mário Morel, em “Lula, Anatomia de uma liderança” (Nova Fronteira, Rio, 1989). Em decorrência de tal legado, o governo Lula da Silva tornou-se um caso de polícia num cenário de filme de gângster. Nos dias que correm, do ponto de vista jurídico, onde se abrir o Código Civil ele corre o risco de ser enquadrado, pois são inúmeros os casos assinalados de prevaricação, assassinatos, fraudes, sonegação, falsidade ideológica, empreguismo, roubos, negligência, suborno, negociatas, corrupção ativa e passiva, evasão fiscal e de divisas etc. etc. etc., em que o governo vê-se envolvido e aos quais, como resposta, apenas tergiversa e procura, com atrevimento inédito na história da nação, estabelecer o império do descaro e o veneno do cinismo. Para tanto, o governo dispõe de aliados tecnicamente qualificados nos poderes executivo, legislativo e judiciário, dispostos a todo tipo de protelações e artifícios – legais e ilegais -, além de recursos mais que consideráveis e uma legião de escribas, em todos os espaços das distintas mídias, para fazer ecoar o tambor da desinformação, das promessas alvissareiras e até mesmo da confusão premeditada. É nela que a máquina fraudulenta aposta suas fichas e só a população brasileira, uma vez consciente da trama, pode arrastá-las para a lata de lixo da história. Como manda o bom figurino. Nota do Editor: Ipojuca Pontes é cineasta, jornalista, escritor e ex-Secretário Nacional da Cultura.
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