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Crônicas
02/12/2005 - 16h07
A hora dos gandulas
Luiz Guerra - Agência Carta Maior
 

Isto foi em 1958, num belo trecho do caminho de ferro da Rio d’Ouro, nos meus dez anos de idade.

O sonho do meu vizinho de porta era ser gandula. Que sonho mais babaca, pensava comigo, exasperado, enquanto seguíamos para o campinho da rua Carolina Amado, perto de uma grande horta onde hoje quem dá show de bola no samba são os Boêmios do Irajá.

O garoto ficava um porre quando era obrigado a vestir a camisa do time sempre que um titular não dava as caras ou alguém se machucava durante o jogo. Era uma compulsão tão estranha que ia apanhar todas as bolas que saíam e batia todos os laterais, qual um novo Bernardo Gandulla, jogador vascaíno do final da década de 1930 que tinha esse hábito e acabou emprestando o sobrenome a toda essa turma de marmanjos que pode atrapalhar bastante a vida de um time de futebol que joga na casa do adversário.

Fora de campo o nosso próprio gandula limitava-se a gandular, com amor e imparcialidade, não raro levando uns bons cascudos depois de uma partida difícil em que tivesse sido rápido demais na devolução da bola ao inimigo. Que venham os cascudos, dizia ele, não abro mão da honestidade. Tenho comigo que não era só questão de honestidade, mas sim de otimização pessoal naquilo que fazia, uma doença que engordou o nosso passivo com muitos gols marcados no último minuto. E chego mesmo a pensar que nunca levou uma surra daquelas devido ao nome do nosso esquadrão: Se Perder Não Faz Mal, sério. (Dez anos depois batizei um time de Brasília com esse nome profético, e foi a mesma água).

Lembrei-me do velho amigo de infância, assistindo à pavorosa vitória do Flamengo sobre o Coritiba, aqui na Ilha, quando os minutos finais da partida nos brindaram com o sumiço dos gandulas rubro-negros, naturalmente sob as asas de um urubu de cartola. Coisa de cepeí.

Alvinho também torcia pelo Flamengo. Se não lhe aconteceu nada de grave nos últimos quarenta e sete anos, podia até estar por ali, no meio da urubuzada. Se estava, sofreu o diabo. Não com o time do coração, já pela hora da segundona, mas com a cera e o sumiço dos gandulas, uma verdadeira afronta aos seus sonhos de infância.

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