O Globo publicou dia 30/11/05, uma pequena notícia que deveria ser lida por todos os brasileiros, especialmente aqueles que ainda preservam o hábito tolo, quando não desonesto, de defender o regime comandado pelo vetusto ditador Fidel Castro. Custa crer que, em pleno Século XXI, ainda tenhamos o dissabor de conviver com tais níveis de obscenidades, no entanto, nada poderia descrever melhor, em pouquíssimas linhas, o que se passa na Ilha dos Horrores. O jornal carioca começa informando que o governo do imorrível pústula caribenho “começou uma campanha para erradicar o que identifica como os desvios dos chamados ‘novos ricos’ do país, beneficiados pelas reformas econômicas adotadas após a queda da União Soviética na década em 1990”. Num discurso na Universidade de Havana em que os acusou de roubarem o país, o presidente Fidel Castro disse que o regime empreenderá "uma batalha contra o vício na qual ninguém será poupado". Quem ficou imaginando, como eu, que os tais "novos ricos" seriam banqueiros, industriais ou outra categoria burguesa qualquer, enganou-se redondamente. Longe disso. Os inimigos da pátria, alvos da ira inclemente do antediluviano, são, ninguém mais, ninguém menos que, pasmem!, uma meia dúzia de frentistas, garçons e motoristas de táxi. São esses os mais novos algozes da revolução marxista del brujo Fidel. Mas deixemos que a notícia fale por si mesma: "o ditador mobilizou milhares de jovens cubanos para a investida contra os alvos principais da campanha: pessoas que têm acesso a moeda forte, como donos de pequenos restaurantes, frentistas de postos de gasolina e motoristas de táxis privados. Fidel jurou eliminar as diferenças que apareceram na sociedade cubana entre esse grupo - que é visto com maus olhos pelo regime e inclui pessoas que recebem remessas de dinheiro de parentes no exterior - e o restante da sociedade." A mim, pelo menos, o que mais chamou atenção não foi o fato da perseguição em si, ainda que ela seja perpetrada contra indivíduos absolutamente inermes, afinal o resto do mundo já se acostumou a testemunhar, de braços cruzados e em respeito ao princípio basilar da "não intervenção", os recorrentes rompantes autoritários e cruéis do mega-tirano do Caribe. O que há de novo nessa tragicômica notícia é o fato dela trazer à luz, despida daquele indefectível véu de desinformação que normalmente se verifica quando o assunto é Cuba, a verdadeira face da indigência reinante naquela sociedade. Uma miséria tão infame que meras gorjetas, porque recebidas em moeda forte, são capazes de transformar os seus donatários numa classe privilegiada. Uma classe que, em função desses "indecentes privilégios", talvez tenha condições de adquirir alguns maços de cigarros contrabandeados ou, quem sabe, uma meia dúzia de pãezinhos a mais toda semana. Alguns trocados a mais nos bolsos de uma pequena minoria, mas capazes de fazer enorme diferença. Uma diferença tão grande que levou o hirsuto imperador a proferir, em meio à última das suas freqüentes pantomimas, a seguinte pérola: "- Ou derrotamos esses desvios e tornamos nossa revolução forte, ou perecemos." Porém, voltando ao início, o mais lamentável disso tudo é que fatos como este, que expõem de maneira transparente, simples e absolutamente insofismável o magnífico descalabro que se abateu sobre aquele pobre povo há quase 50 anos, não são suficientes para iluminar as cabecinhas ocas da esquerda tupiniquim, que insistem em mistificar o regime comunista de Castro e sua trupe, seus miseráveis resultados e sua (inegável) "igualdade social". É difícil entender como pessoas esclarecidas e cultas têm a cara-de-pau de continuar tecendo loas à infâmia cubana. Gente muita vezes riquíssima, que, ao contrário do discurso idealista contra as famigeradas desigualdades, vive cercada do bom e do melhor, com acesso a todo tipo de conforto e mordomias que o capitalismo pode oferecer. Enfim, um pessoal que, malgrado toda a propaganda em favor de Fidel, jamais aventou a hipótese de mudar-se para lá. É lamentável. Nota do Editor: João Luiz Mauad é empresário e formado em administração de empresas pela FGV/RJ.
|