A Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD) realizada pelo IBGE tem se constituído num verdadeiro diagnóstico da situação brasileira. O último inquérito, agora divulgado, traz boas e más notícias, mas as primeiras superam as segundas. Sim, o Brasil continua um país pobre; sim, as condições de vida e moradia permanecem precárias, com um terço das casas sem esgoto sanitário. Mas a taxa de desemprego caiu um pouco, a distribuição de renda melhorou um pouco. E, em outros setores, os números se alteraram sensivelmente. Em 12 anos (de 1992 a 2004) o percentual de analfabetos com mais de 15 anos caiu de 17,2% para 11,2%. Quando a gente pensa na penosa situação que é ser adulto analfabeto (quase 15 milhões de pessoas, ainda), damo-nos conta de como é importante esta conquista e da importância que têm programas como o EJA, a Educação de Jovens e Adultos. Semana passada estive na Escola Nossa Senhora do Carmo, na Restinga, e fiquei emocionado vendo pessoas já de certa idade, lendo com orgulho as redações que tinham feito. Outro indicador que caiu muito foi a taxa de fecundidade, o número médio de filhos por mulher. Aliás, vem caindo há muito tempo, mas para ficarmos só nos últimos vinte anos, a taxa diminuiu de 3,5 para 2,1 filhos em média por mulher. Pensem neste número: 2,1. Ele é muito significativo. Uma criança nasce de duas pessoas, um pai e uma mãe. Dois filhos substituem, em número, os pais quando estes falecem. Ou seja: dois filhos é o número mínimo para reposição populacional. Com menos de dois filhos por casal, a população começa a diminuir, o que acontece na Europa, onde governos pagam para as pessoas procriarem. Estamos no exato momento de uma transição demográfica. Claro que este número é uma média e que, como diz o Sant’Ana, em certos setores da população o número de filhos é maior: por exemplo, entre garotas pobres. Não se trata só de desconhecimento; muitas vezes a gravidez representa um protesto, ainda que desastroso. Mas a média acaba representando um padrão e a família com dois filhos tornou-se um padrão clássico em nosso tempo - coisa que, como percebemos, agora está acontecendo no Brasil. Finalmente uma pergunta: se as coisas melhoram, por que tanto protesto, tanta inconformidade? Resposta: é exatamente por isso, porque as coisas melhoram. Quando a situação é desesperadamente ruim, o resultado é a apatia generalizada. Mas quando as pessoas sentem que há possibilidade de sair do buraco, botam a boca no mundo. E é bom que façam isso. É um fator de progresso social, político e econômico.
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