O jogo político não é muito diferente do futebol. Tem campeonatos em três níveis: municipal, estadual e federal. Congrega times, torcidas organizadas, possui cartolas e patrocinadores. Há venda de passes de atletas que, mesmo sendo adeptos de um time, jogam pelo outro em troca de ganhos. Muitas vezes, um jogador pode ser suspenso do "esporte" por indisciplina. É verdade, quase me esqueço, há também árbitro, auxiliares e, até mesmo, um tribunal específico para julgar e punir os faltosos. O público pode ser fiel a um determinado time, mas há registro de fanáticos por um craque que o acompanham na equipe em que tiver jogando. Lembram do Jânio Quadros? Duas diferenças, entretanto, são gritantes: o tempo de duração da carreira profissional. No futebol, é curta; dura, no máximo, uns 15 anos. Já na política, o "atleta" pode superar os 60 anos de atividades ininterruptas. E, muitas vezes, com uma tremenda "fome de bola"... A outra diferença, substancial, é que os jogadores de cada um dos times são escolhidos pelas torcidas para disputar cada campeonato, que dura quatro ou oito anos. Interessante, não? Já pensou você votar e eleger um centro-avante, um meia, um goleiro. Pode até ser uma coisa ideológica, você escolher um lateral para a direita ou esquerda. Indecisos podem optar por um beque central, sem medo da preconceituosa pecha de estar "em cima do muro". O Brasil tem no seu DNA o gene da exceção. É uma coisa de origem. Este é um País atípico desde a sua descoberta e para sempre. Nada aqui foi, é ou será normal. Quando eu era pequeno, já escutava as pessoas mais experientes comentarem que se o Vaticano ficasse no Brasil certamente iriam convidar Sua Santidade para dar ponta pé inicial em jogo de futebol entre casados e solteiros, partida disputada por sacerdotes, e dos dois lados... A única coisa definitiva no Brasil é que tudo é provisório. Desde as medidas governamentais, passando pelas contribuições tributárias até, felizmente, os períodos de exercício do poder pelos políticos. Muitos deles, embora provisórios, tentam ser definitivos... Getúlio Vargas, os militares do Golpe de 64. Penso que alguns políticos não são de todo ruins, em especial aqueles que acreditam na vida depois da morte. Estes comportam-se melhorzinho para, quem sabe, já no céu disputarem uma eleição com alguma chance. Não perderem a "boquinha"... Eu ainda confio no presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Acredito no seu passado de homem humilde e simples, na sua capacidade de superação e crescimento pessoal, na sua honra construída no sofrimento do cidadão brasileiro comum, na sua determinação em fazer alguma coisa importante pelo Brasil. Esforço-me por confiar na sua sinceridade, quando diz que foi traído pelo dilúvio petista (qualquer semelhança com Delúbio não é mera coincidência). O time do presidente Lula, o Corinthians, vai ser campeão brasileiro. Um típico caso desses bem parecidos com o jogo político: elenco de campeão, qualidade de campeão e sorte de campeão, como ironizou o treinador Emerson Leão. Entretanto, pesam sobre essa vitória previamente anunciada árbitros corruptos, decisões judiciais discutíveis, patrocínios com origens questionáveis, facilitações inesperadas em partidas contra adversários sem esperança etc. e tal. No campo político brasileiro, neste instante, o jogo está rolando e já passou da metade do segundo tempo. Mas o resultado, por enquanto, é desfavorável ao Governo Lula: Caixa 2 x Fome Zero. Será que o governo vira o jogo? A fiel torcida está tão calada... Nota do Editor: Ricardo Viveiros é jornalista, escritor e empresário do setor da Comunicação Social.
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