Uma República tão podre que nem mais se percebem as causas de sua podridão. Talvez também porque não se reconheçam mais os fundamentos constitucionalistas de uma República de verdade. Em Zero Hora de 1/12/2005, a jornalista política Rosane de Oliveira condenou o deputado Alceu Collares (PDT/RS) por este ter argüido a suspeição do presidente da Câmara, deputado Aldo Rabelo, que fora testemunha de defesa do processado José Dirceu no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados. A jornalista fez coro aos que se levantaram em defesa do deputado Aldo condenando Collares. A "bola fora", como ela disse de Collares, foi da jornalista! Ora, a jornalista já não percebe mais, como a maioria esmagadora dos nossos analistas políticos, e os próprios parlamentares, que, em uma República minimamente constituída - o que o Brasil já não é mais - a mais leve suspeita, a menor de todas as suspeições levantadas contra quem representa uma Casa Parlamentar, ou é autoridade investida de juridicidade, deve ser acatada de pronto e sem a subjetividade que se dá ares de indignação pessoal. Isso é praxe constitucionalista de relevo nas democracias verdadeiramente consolidadas, o que o Brasil certamente não é. Reza a melhor cartilha Moral do Direito que toda suspeição ou argüição de impedimento deve ser acatada de pronto, repito, de pronto, não cabendo moralmente nenhuma defesa própria nesse caso, muito menos a defesa blindada por outrem de quem não teve a sua honradez pessoal questionada. O deputado Aldo também em seu candente e indignado discurso de autodefesa, não alcançou o entendimento de que o deputado Collares não atacava a sua honra ou punha em dúvida sua honestidade. Collares apenas levantava a suspeição, cobrando do processo e não do deputado, a imparcialidade necessária, e a isenção jurídica de quem é dotado de juridicidade ou detém autoridade jurisdicional. O caso, não sendo bem captado por quem de direito - políticos e jornalistas -, prova o grau de degeneração moral da República que não mais diferencia a pessoa dotada de moralidade própria, do papel jurídico que pode estar representando, pois é da Moral que nasce o Direito. Onde essa esteja em ruína, prosperam argumentos em defesa da honra própria. É em nome desta que bradam lulas e jobins eivados de vícios morais insanáveis, uns e outros; um por ignorância e estupidez, outro por arrogância imodesta e erudita. É do conhecimento geral que Nelson Jobim, presidente da mais alta corte nacional, se arvora candidato presidencial, demonstrando uma evidente e vergonhosa incapacidade de eximir-se ética e moralmente daquilo que constitucionalmente se lhe impõe. E nem falo de sua costumeira cabala de votos! A tal chegou a nossa República de Bananas! *** Outro parâmetro demarca bem a República de Bananas. O Brasil se torna cada vez mais rapidamente em um novo Haiti, país onde reina a mais absoluta barbárie. O terrível assassinato por fogo em um ônibus que vitimou uma dezena de pessoas, incluindo a morte cruel de um nenê, cometido por bandidos vulgares no Rio de Janeiro, mostra à saciedade o grau de degeneração que alcançamos. Não somos mais capazes de proteger a sociedade de bandidos comuns e sanguinários. Pelo contrário, estes são heróis aos olhos do Ministro da Justiça e do Presidente da República de Bananas! O que realmente cresce nessa República de Bananas é a crueldade e, contra essa, não há discurso de "excluído", ou baboseira de "má distribuição de renda" que se justifique! Nota do Editor: Carlos Alberto Reis Lima é médico e formado em História e Ciência Política na UFRGS em nível de Mestrado.
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