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Opinião
09/12/2005 - 16h11
Rescaldo dos incêndios de Paris
Percival Puggina - MSM
 

Na última semana de agosto de 1944, o general De Gaulle convencera os Aliados a retomarem Paris. A decisão não fora fácil. O controle de uma metrópole de tais proporções demandaria enormes problemas logísticos e poderia retardar a marcha na direção de Berlim, de sorte que Churchill e Eisenhower julgavam preferível deixar essa dificuldade nas mãos dos alemães por mais alguns dias. Mas a manutenção da Cidade Luz também era problema para Hitler que, por isso, determinara ao general Von Choltitz que incendiasse a cidade caso fosse invadida pelas tropas adversárias. Felizmente, De Gaulle foi convincente e Hitler não. Os aliados tomaram a cidade e o general alemão optou por descumprir a ordem e render-se. A pergunta disparada por Hitler ao saber dos fatos - "Paris brûle-t-il?" - ressoa ainda hoje como sinal de demência. "Paris arde em chamas?"

Pois é. A esquerda se agitou no começo do mês de novembro. Os dedos de seus intelectuais correram pelos teclados com volúpia e intensidade há muito tempo perdidas. Retomou-se a insurreição dos miseráveis. Milhares de carros burgueses foram incendiados. Supermercados invadidos e saqueados. Prédios públicos devorados pelo fogo. Paris ficou em chamas e não podia haver notícia mais alvissareira para os "pacifistas" brasileiros do plebiscito de outubro.

Se tudo tivesse acontecido em Bolonha, na Itália, a repercussão seria outra. Afinal, a cidade foi controlada pelos comunistas durante 54 anos e o ativismo ainda está muito presente. Em Paris tudo fica diferente. Ganha simbolismo. Paris é a glória! Lá, um dia, em 1789, donas de casa e padeiros saíram às ruas para cortar a jugular da monarquia. E se jamais chegaram perto do poder nem mudaram a história da humanidade, ao menos armaram uma confusão medonha e suscitaram algumas páginas de contagiante conteúdo revolucionário. Foi lá, enfim, que direita e esquerda lançaram-se, reciprocamente, os primeiros desaforos.

Paris entrou em chamas, a baderna tomou conta e houve muita gente aplaudindo, torcendo, festejando. Nem a destruição das Torres Gêmeas tem o sabor de Queda da Bastilha igual ao de um bom levante em Paris. Faltam razões da razão humana, mas sobram explicações nas ideologias desumanas. Elas servem para produzir canonizações em Esteio ou em Paris. Tanto faz, desde que sirvam à causa por palavras ou obras.

Quando François Mitterrand abriu a França à imigração de suas antigas colônias como um gesto de acolhida, desencadeou o fluxo migratório com cujas conseqüências a nação francesa hoje se defronta. Uma coisa eram os imigrantes alemães e italianos que vinham fazer a América no século XIX. Outra eram os africanos chegando na Paris feita e bem feita no século XX. Eles imigraram porque a vida, lá onde estavam originalmente, era uma grande droga. E resolveram viver numa cidade onde morar mais ou menos bem é coisa para milionários. Não podia dar certo para eles, mas deu muito certo para quem gosta de ver Paris em chamas.


Nota do Editor: Percival Puggina é arquiteto, político, escritor e presidente da Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública.

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