Impressionante a quantidade de casais bonitos que a gente vê nos bares, nos cinemas, nas festas. Aparentemente, trata-se de um fenômeno normal. Em primeiro lugar, as pessoas estão cada vez mais bonitas. Depois, parece lógico que um homem bonito escolha uma mulher bonita e vice-versa. Quando as aparências são muito diferentes, feio com bela, belo com feia, começamos a suspeitar que algum fator emocional esteja em jogo - uma anormalidade, portanto. Mas não se trata só da escolha. Há uma pressão mútua nos casais para a melhora da aparência física, em termos de roupa, de maquiagem e de cirurgia plástica. Na Inglaterra, uma recente enquete mostrou que 25% das pessoas que se submeteram à cirurgia plástica, e há muita gente submetendo-se à cirurgia plástica, pressionam o cônjuge para fazer o mesmo. O estímulo para isto também vem das celebridades (o casal Beckham), o que é explicável pela chamada teoria da identificação social - admiramos uma pessoa famosa, queremos ficar parecidos com ela -, de shows de tevê (I want a famous face, da MTV) e de publicações, especializadas ou não. Semana passada, o Conselho Regional de Medicina de São Paulo mostrou-se alarmado com a publicação de um número especial da revista Plástica e Beleza, com a participação de 28 profissionais, e resolveu punir aquilo que é considerado publicidade irregular, como as fotos "antes e depois". Mas a natureza, que é sábia, também tem um mecanismo parecido, menos caro, menos traumático (ainda que mais demorado). Vocês decerto já repararam: casais que vivem juntos há muito tempo tendem a ficar parecidos. E isto não é só impressão, trata-se de algo testado em trabalhos científicos. Nos Estados Unidos, fotos de pessoas idosas e de pessoas jovens foram mostradas para estudantes universitários que tinham de identificar, na base do palpite, quem era casado com quem. No caso de pessoas idosas, o número de acertos foi muito maior. Essa semelhança foi confirmada por medidas físicas, cintura, peitoral, até o tamanho da orelha. Existe uma convergência na aparência física dos cônjuges, conclui o trabalho. E se acentua após 25 anos de convivência (eu não disse que levava tempo?). Qual a razão dessa semelhança? A gente pode pensar que se trata de gente que tem as mesmas condições de vida, a mesma casa, a mesma comida. Mas isto não parece ser tão importante. O psicólogo (Universidade de Stanford, Califórnia) Robert Zajonc, que estuda famílias, diz que a causa maior é o fato de que as pessoas casadas partilham as mesmas experiências emocionais: riem ao mesmo tempo, choram ao mesmo tempo, zangam-se ao mesmo tempo. Com o que a fisionomia de ambos fica mais parecida. Mais parecidos, mais felizes. Vocês dirão: mas isto não significa necessariamente beleza. Ao que eu perguntarei: vocês já viram alguma pessoa feliz que não seja, de algum modo, bonita?
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