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Opinião
10/12/2005 - 14h53
As ruas do Recife
Flávio Tiné
 

Acompanho com interesse e até me solidarizo com os cronistas que acusam sistematicamente os problemas urbanos e criticam, às vezes de maneira ríspida, as chamadas autoridades competentes. Percebe-se certo exagero, em alguns casos, mas tais críticas são necessárias, servindo inclusive de alerta aos responsáveis por determinados serviços. Nos grandes centros como Rio e São Paulo há escritores de grande prestígio que se dedicam constantemente a certos assuntos, provavelmente incentivados por amigos, vizinhos e companheiros de mesa de bar.

Um tropeção numa calçada vale uma crônica. Um barulho no bar ao lado gera um protesto em forma de carta ou em telefonemas às emissoras de rádio. Lembro-me particularmente do escritor Ignácio de Loyola Brandão, autor de mais de 30 livros e milhares de colaborações em revistas e jornais, que certa vez dedicou longa crônica às calçadas nas quais é obrigado a andar, no trajeto entre seu apartamento e seu trabalho, nos Jardins, proximidades da avenida Paulista. Descrevia minuciosamente todos os buracos e defeitos, como se estivesse descrevendo a chegada do homem à Lua ou um grande acontecimento de interesse internacional. Confesso que fiquei tentado a fazer o mesmo trajeto, para mim uma espécie de Caminho de Santiago, algo assim, tal a magnitude alcançada pela brilhante redação.

Com certeza, o escritor só alcançou tamanha façanha literária porque andava a pé e repetia o trajeto de segunda a sexta-feira. Sabia de cor cada inclinação.

Fico imaginando se o notável escritor morasse no Recife. Se morasse num hotel de luxo em Boa Viagem e fosse a pé para o escritório, a poucos metros. Se estivesse hospedado em Olinda, à beira-mar plantado, e tivesse de subir algumas ladeiras para ver suas Igrejas e ateliers! Ah se algum escritor passeasse pela Estrada de Belém!

Não era necessário ser nenhum gênio para escrever sobre os buracos das calçadas do Recife. Talvez sofresse alguma torção, ou levasse alguns tombos, mas logo se levantaria, para cair mais adiante.

Devo confessar que estou horrorizado com o estado das calçadas do Recife. Um assunto que a imprensa não comenta senão em pequenas colunas discretamente dedicadas a questões urbanas.

Será que nenhum editor levou um tombo? Será que nenhum administrador quebrou o pé? Será que ninguém se levanta quando cai?

As ruas do Recife perderam sua poesia. Estão danificadas ora pelas árvores, ora pelos postes, ora pelas chuvas.


Nota do Editor: Flávio Tiné é jornalista.

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