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Opinião
11/12/2005 - 09h17
Dirceu: expulso a bengaladas
Ipojuca Pontes - MSM
 
"Para Zé Dirceu o que importa é a versão e não o fato" - (Um crítico anônimo)

A trajetória do revolucionário brasileiro José Dirceu de Oliveira e Silva lembra muito de perto a do Nhô Augusto do Saco-da-Embira, personagem do conto de Guimarães Rosa, sujeito cheio de pecados, de vida curtida em desatinos, mas que tinha como projeto atingir o absoluto. Dizia o "má traga" a velha beata que dele cuidava:

- "Mãe Quitéria, eu entro no céu nem que seja a porrete!..." Claro que há entre ambos diferenças fundamentais: além de figura trágica com tintas de personagem épico, Nhô Augusto era um cristão temente a Deus, alma penada que engoliu com intrepidez o demônio da vaidade e soube esperar, humildemente, sua hora e sua vez. Dirceu, não: tipo mais que pretensioso, cevado na utopia de um socialismo marxista primário, passou a vida a semear a discórdia no campo da sofrida alma do povo brasileiro, tal qual um pastor da desagregação, sem se dar conta de que ele próprio corporifica a raiz do mal.

Assim, dentro do espaço nacional conflituoso, na sanha selvagem de estabelecer a ferro e fogo uma "sociedade mais justa e fraterna", o ex-chefe da Casa Civil do desmoralizado governo Lula, a golpes de tangapema, na maré vazante da sempre frágil democracia cabocla, chegou ao poder - poder que exerceu, sob os olhares perplexos da nação, com arrogância ilimitada e vontade criminosa. De parceria com Lula, presidente impostor, o eterno Dirceuzinho de Ibiúna formou a mais infame dupla que já lastreou a vida pública nacional, responsável direta pela criação da República da Lama que fez do Brasil um imenso bordel, todo ele submerso na corrupção, na mentira e na degradação.

Com efeito, para subjugar a nação e infligir ao povo brasileiro os ditames de sua utopia medonha, o despudorado Dirceu, quem sabe escorado nos ensinos do provecto Fidel Castro, projetou e colocou em prática a fantástica trama de manter-se ad infinitum no Planalto com os dinheiros sacados dos cofres públicos, via ardiloso plano executado porcamente por Delúbio Soares e Marcos Valério. De início, o beneficiário do enredo para mais uma temporada de quatro anos no Planalto seria o companheiro-operário, mas, intramuros, era tido como certo que, em 2010, o mandatário de plantão seria o próprio Zé Dirceu, o então primeiro-ministro do governo Lula. Como disse certa feita o agudo Elia Kazan: "Não se conhece na história nenhum esquema comunista que tenha renunciado o poder depois de alcançá-lo".

Para o meu gosto Zé Dirceu, no poder, era um chato arrogante, péssimo orador de sotaque caipira, figura tacanha que só o passado de líder estudantil radical poderia explicar. A sua ética, que se alastrava pelo tumultuado governo, coonestava o apetite da hiena política implacável, sedento de mando. Ademais, vaidoso da própria autoridade, era um ministro maniqueísta e medíocre, ou melhor, um politiqueiro limitado à obsessiva tarefa de manter o poder a todo custo. Sua ascensão e mando dentro de um partido formado pelo oportunismo da chamada "intelectualidade orgânica", com a chancela de tipos como Antonio Candido e outros menos votados, só se justifica pela incapacidade prática dessa mesma elite assumir "o processo", associada à pretensão (frustrada) de representar o cômodo papel da eminência parda do partido-governo. Na ordem prática das coisas, em meio aos querubins do pensamento materialista e dialético, Zé Dirceu deitava e rolava na partilha cotidiana dos crimes oficiais, de causar inveja ao próprio desempenho de Vladimir Lênin, o ditador do "truque da luva".

No resumo da ópera-bufa, Zé Dirceu, o síndico oficial que cunhou de forma cínica a frase: "Este é um governo que não rouba e nem deixa roubar"; o executivo que tramou a vitória de Lula a partir de alianças e composições políticas espúrias; o implacável adversário dos dissidentes da ortodoxia partidária; o "capitão" da quadrilha organizada composta por Delúbio, Silvinho (sociólogo da USP), Marcos Valério, Waldomiro, Duda Mendonça (ainda atuante), Adalberto Vieira (a "mula" dos dólares na cueca) e tantos outros - bem, este inglório personagem, pela vontade da sociedade brasileira e do Congresso, se ferrou. Sua derrota foi marcada por uma diferença superior a 100 votos, o que revela o desprezo dos pares. Com um tanto de farisaísmo, depois de encenar a farsa da contestação, foi banido da vida pública brasileira durante oito anos por "falta de decoro parlamentar".

Mas não de forma definitiva, ao que parece. Em entrevista coletiva concedida irregularmente numa sala da Câmara Federal, só possível pela permissividade do companheiro comunista Aldo Rabelo, Dirceu garantiu que vai percorrer o Brasil defendendo a reeleição de Lula, na volta de prolongadas férias nos Estados Unidos (país que aceita tudo). De quebra, com o propósito deliberado de empulhar a nação, o petista revolucionário jurou pela honestidade de Delúbio Soares e se disse um "homem pobre", em que pese o ar de prosperidade, os projetos milionários e a cara de pau do assumido novo-rico.

De minha parte, aferi o tamanho do repúdio coletivo ao parceiro de Luiz Inácio quando, pela televisão, vi a cena na qual um aposentado em trânsito pelos corredores do Congresso desfechava bengaladas na cabeça do mentor do mensalão. O pré-ancião simplesmente traduzia em gesto cívico o que o povo brasileiro manifestava em palavras e tinha ganas de fazer - o que demonstra que nem tudo está perdido no reino da miséria geral que agride o País.


Nota do Editor: Ipojuca Pontes é cineasta, jornalista, escritor e ex-Secretário Nacional da Cultura.

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