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Opinião
15/12/2005 - 10h06
Parada no tempo
Pedro J. Bondaczuk
 

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em pronunciamento que fez em cadeia de rádio e televisão, em fevereiro de 1995, ainda durante o seu primeiro mandato presidencial, lançou o que na oportunidade resolveu chamar de "Acorda Brasil". Tratava-se de um movimento nacional, espontâneo, cujo objetivo era o de resgatar a educação, em todos os níveis, no País.

Convocou, por exemplo, os pais a participarem da instrução de seus filhos e propôs aos empresários que bancassem a aquisição de milhares de receptores de televisão para as escolas, para que pudesse ser feita uma reciclagem, uma atualização, uma padronização de métodos de ensino dos professores.

A convocação, na época, despertou reações as mais diversas da sociedade. Uns acusaram o ex-presidente de estar fora da realidade ao fazer apelo aos empresários para que investissem em algo cujo retorno é muito difuso. Outros levantaram a questão dos salários dos professores, que resvalavam (e ainda resvalam) para o ridículo. Alguns (poucos) elogiaram o referido apelo, entendendo que o processo educacional deve ter participação coletiva, pois seus resultados beneficiam a todos.

Contudo, o objetivo do apelo foi cumprido naquela oportunidade. As pessoas foram induzidas a criticar, a elogiar e a pensar no assunto. Em casos como esse, no entanto, é necessária, também, a ação, para que não se caia no terreno do mero discurso. E foi o que faltou na ocasião.

A esse propósito, vem-me à memória uma citação que li, recentemente, de Seymour Papert, que resume o que vem ocorrendo com a educação, não apenas no Brasil, mas no mundo. Disse o citado pensador: "Se alguém dormisse durante os últimos cem anos e acordasse dentro de uma sala de aula, não notaria a menor diferença".

O panorama mundial mudou muito no século passado. Descobertas científicas espetaculares foram feitas, a eletrônica e a informática reduziram o tamanho do Planeta encurtando distâncias e o Projeto Genoma procedeu ao mapeamento do âmago da vida (os genes de um ser humano), entre outras maravilhas. Costumes, situações políticas, comportamentos e aspirações mudaram, e muito. E o ensino, como ficou?

Permaneceu exatamente o mesmo. Os mesmos conceitos, os mesmos métodos, o uso dos mesmos recursos, o mesmo marasmo. Tornou-se mera formalidade, para que o cidadão possa ganhar o direito de se preparar para uma profissão técnica. Em geral, as pessoas acabam aprendendo o que lhes interessa, para o exercício profissional, apenas na prática. Somente fazendo.

As escolas - quer as públicas, quer as particulares -, transformaram-se, salvo honrosas exceções, em meras fábricas de diplomas. Isto é que precisa mudar, para evitar que o ser humano acabe sendo robotizado e transformado em autômato que apenas saiba produzir e consumir, acelerando a degradação (já bastante avançada) do Planeta.

É necessário ensinar (e induzir) o aluno a pensar e não despejar sobre ele apenas um conhecimento enciclopédico, ao qual ele pode ter acesso por múltiplos meios, na maioria mais baratos e práticos, como a internet, por exemplo.

Estou de pleno acordo com o professor Celso Niskier, na oportunidade membro da Academia Internacional de Educação que, em artigo publicado no jornal "O Globo", em 25 de janeiro de 1995, intitulado "A reengenharia da educação", afirmou: "Ao analisarmos o que vem ocorrendo dentro das escolas, percebe-se que o modelo de ensino existente assemelha-se ao da era industrial: salas de aula organizadas como linhas de produção, onde o ensino é massificado, ignorando-se as características individuais de cada aluno. Os professores são vistos como os donos e únicos entregadores do conhecimento e a competição entre alunos é estimulada. As disciplinas são estanques e compartimentalizadas, ignorando-se um mundo moderno onde a tônica é a interdependência do conhecimento".

Nestes dias em que se fala tanto em mudanças, está aí algo que precisa ser mudado, e com urgência: o ensino e, por extensão, o conceito mais amplo e abrangente, que é a educação. É preciso debater com a sociedade que tipo de pessoas se pretende formar no futuro: se meros robôs, obedientes, consumistas, mas sem nenhum espírito de iniciativa. Ou se indivíduos criativos, atuantes, que utilizem ao máximo essa máquina maravilhosa e insubstituível chamada cérebro, com que a natureza nos dotou. Está aí um bom tema para discussões e não apenas a crise política, que serve, sobretudo, de palanque para oportunistas que somente aspiram ao poder pelo poder, assunto que a imprensa explora "ad náusea".


Nota do Editor: Pedro J. Bondaczuk  é jornalista e escritor.

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