Ubatuba é uma cidade plana, ideal para bicicletas. Todos por aqui andam, andaram ou andarão de bicicleta. Isso é ótimo para a saúde de todos, dos que pedalam e dos que respiram. Não exalam gases, fumaça ou CO2. Com exceção do maldito que instalou um diminuto, porém, potentíssimo equipamento de som na sua báique e que circula impunemente pela cidade fazendo propaganda comercial, as bicicletas também não fazem ruído. Entretanto, tantas vantagens têm seu preço. A quantidade é gigantesca. Sem regras, transformaram-se num problema urbano. Sua circulação é caótica. Todos por aqui já trombaram ou foram trombados por bicicletas. E xingados. As crianças e senhoras que o digam. Estamos indo cada vez mais fundo na desarmonia social. Como todo problema urbano, a solução cabe à prefeitura através do planejamento elaborado por técnicos da área, isto quer dizer arquitetos e urbanistas. Anuncia-se que no próximo dia 20 a prefeitura dará início à execução de um plano para disciplinar a circulação das bicicletas na cidade. Palmas, muitas palmas para ele. Desconheço o plano, não sei do que se trata, não fui convidado para conhecê-lo e considero a fase de implantação o momento de mais alto risco do programa, mas, novamente palmas para ele. Melhor um plano tecnicamente elaborado, que permita ajustes ou correções exigidas por sua experimentação prática, do que os habituais chutes, palpites ou promessas eleitorais pagas com intervenções urbanas de interesse pessoal, a exemplo de tudo que tem acontecido em Ubatuba nos últimos 30 anos. Esse programa cicloviário poderá ser o elemento transformador das mentalidades. Sua implantação implica em criar regras para o estacionamento e circulação de todos os veículos da cidade. Por sua vez, as regras para a disciplina do trânsito e proibição dos estacionamentos nas vias de principal interesse comercial, implicam na adesão dos comerciantes. E a adesão dos comerciantes, que num primeiro momento mostram-se temerosos das alterações programadas para a boca da temporada, poderá contaminar positivamente os políticos e, quem sabe, levá-los a mudar a meta de seus discursos e preocupações, colocando a cidade e o planejamento urbano no centro de seu alvo eleitoral. É uma ilusão pensar que qualquer alteração nas regras de trânsito resulte em prejuízo para as vendas. Não é o fluxo de veículos, o congestionamento ou mesmo o estacionamento livre nos dois lados da via pública que garante o êxito do comércio ali instalado, e sim, a tranqüilidade do pedestre, os preços e a criatividade do comerciante. O planejamento urbano é a maneira de se distribuir da forma mais justa possível as oportunidades que a cidade oferece em seus múltiplos aspectos. Por isso, o planejamento urbano deve passar por uma fase de discussões e consenso com a comunidade. Esse consenso deve virar lei, e essa lei chama-se Plano Diretor. A falta de planejamento prestigia o privilégio. Não temos até hoje um Plano Diretor porque Ubatuba se transformou nas últimas décadas no reino dos privilégios. A implantação do plano cicloviário pode começar a mudar a visão e o tratamento da cidade, não só por parte de seus dirigentes, mas, principalmente pelo envolvimento positivo da população. Parabéns ao Prefeito Eduardo César pela oportuna iniciativa. Nota do Editor: Renato Nunes é arquiteto e morador de Ubatuba, SP.
|