A Natureza anda lenta. Não desanda a fazer milagres e a mostrar a varinha de condão. A descoberta de que a Natureza poderá engolir o homem/mulher - caso o glutão não abandone depressa essa agonizante adolescência evolutiva - está começando a juntar pessoas em torno de um objetivo comum. Como nas grandes catástrofes, os indivíduos unem-se em mutirão para recobrir as casas e enterrar os mortos; nesse momento pré-destruição humana, as pessoas começam a agregar-se, amalgamadas pelo medo da extinção individual. Os encontros entre socialistas de todos os gêneros e ecologistas em geral parecem inócuos, mas aos poucos eles vão formando uma grande onda. No meio das discussões, alguns mais sensíveis choram, recitam poesias, tocam violão e, nesses momentos, vemos nos olhos da platéia a água vazante, a lágrima-símbolo do amor camuflado à força de nossas guerras ancestrais. Nos dias 25 e 26 de novembro, durante o I Fórum de Meio Ambiente e Economia Sustentável do Centro Sul do Paraná, tivemos duas provas de que milagres acontecem, quando a água dos tsunamis já está batendo na bunda. Vimos o ator global Marcos Palmeira falar do árduo trabalho realizado em sua Fazenda das Palmeiras, no RJ. Segundo ele, logo ao adquirir a fazenda, os funcionários foram convidados a levar para casa o excedente da venda de frutas e hortaliças. Ninguém levou nada. O convite foi renovado várias vezes, mas os lavradores continuavam ignorando a oferta. Palmeira chamou o capataz e perguntou por que eles não aproveitavam aquelas frutas e verduras. “É que o pessoal não ta a fim de comer veneno”, respondeu o funcionário. “Foi aí que me caiu a ficha”, disse o ator. “Eu estava produzindo alimento envenenado”. Nos últimos oito anos, o fazendeiro tratou de adaptar todo o sistema produtivo ao novo paradigma ambiental. Mas, como tudo que não é convencional custa caro, a produção de alimentos orgânicos só não levou Palmeira à falência porque ele estava bem calçado pelos generosos salários da TV. “Somente há seis meses a fazenda começou a se pagar”, informou. Palmeira realiza palestras emocionadas em eventos ambientais, ataca ferozmente o uso de agrotóxicos e se diz feliz com a chegada de passarinhos e outros animais selvagens em sua fazenda outrora devastada. Outra surpresa do Fórum foi a presença do ex-colunista da Veja, Marcos de Sá Correia. Atualmente, grande parte de seu trabalho está voltada para a área ambiental. Segundo ele, antigas civilizações que cresceram baseadas no desmatamento sucumbiram pela falta de árvores. E a ilusão de que o Brasil é um “país verde” serve somente aos propósitos daqueles que querem continuar a devastação. Verdes de verdade são a Europa e o Japão, que já têm grande parte de suas florestas refeitas. Sá Correia não comentou, mas percebe-se que seu discurso se distancia cada vez mais dos dogmas da revista ameritucana. Numa de suas últimas edições, Veja comentou a produção orgânica, falou da grande abertura de mercado para produtos sem agrotóxicos, mas deixou bem claro que consumir um ou outro tipo de hortifruti não faz a menor diferença. A linguagem, como sempre, é elegante: “É de lembrar, porém, que os produtores de alimentos convencionais seguem limites quanto à quantidade de aditivos, determinada por lei com base nos níveis considerados seguros para a saúde”. Você, leitor, pode me explicar por que essas publicações democráticas brasileiras não divulgam os números das mortes por agrotóxicos? Câncer e suicídio são conseqüência direta do envenenamento. Por que essas revistas não mostram os gráficos com os índices absurdos de veneno encontrado em maçãs, morangos, mamões e tomates? Talvez se dissermos que a quase totalidade dos agrotóxicos vem de fábricas americanas, as coisas ficam mais claras. Continuamos comendo veneno na saudável salada do meio dia e no sorvete de morango das tardes de domingo, mas o importante nesta hora é ressaltar o resgate desses dois Marcos, indivíduos que sem um motivo aparente voltaram os olhos para a verdade da Natureza despida de máscaras. Bem-vindos ao time! Tragam outros! Só não tragam Diogo Mainardi, por favor. Sua inteligência cósmica está muito distante de nossa humilde compreensão.
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