O mercado brasileiro de duas rodas vem apresentando um grande avanço nos últimos anos, principalmente devido aos bons índices obtidos pela indústria de motocicletas. De outro lado, as vendas de bicicletas, cuja frota nacional beira 45 milhões de unidades, vivem um período de queda, infelizmente sem grandes perspectivas de crescimento. Enquanto as motos encontram um terreno fértil em diferentes setores da população e nas mais distantes regiões do país, as bicicletas dependem de uma série de fatores que envolvem incentivos do poder público, como a construção de ciclovias, por exemplo. Sofrem ainda com a concorrência desleal de produtos estrangeiros, sobretudo os chineses. O avanço das motos é evidente. Em novembro, a indústria registrou um total de 112.249 unidades fabricadas, crescimento de 17,3% em relação ao mesmo mês do ano passado. O mercado interno cresceu 11,5% no acumulado do ano, com um total de 939.682 motocicletas comercializadas, ante 843.027 no mesmo período de 2004. Ou seja, as vendas no Brasil ultrapassarão a barreira de um milhão ao final de 2005. Já a indústria de bicicletas deverá encerrar o ano com a produção entre 4,5 e 5 milhões de unidades, uma queda de até 10% em relação ao volume fabricado no ano passado. Adquirir uma moto de baixa cilindrada tornou-se mais acessível. Muitos usuários de bicicleta passaram a usar motocicletas como meio de transporte, seja nas grandes ou pequenas cidades. É o sonho de poder ir motorizado para o trabalho. O conturbado trânsito das grandes metrópoles, ao mesmo tempo que incentiva o uso das motos, inibe a utilização das bicicletas. Não há vias apropriadas para elas, que sofrem ao disputar espaço com carros, caminhões e ônibus. Já as motocicletas, muito mais ágeis, se saem muito bem em meio ao tráfego pesado e acabam sendo ideais para enfrentar distâncias maiores, principalmente onde as condições topográficas não colaboram. Também é notório o aumento da utilização das motocicletas nas zonas urbanas e rurais de municípios menores, afastados das grandes cidades. Existe, inclusive, em muitas cidades do Nordeste brasileiro, a substituição dos jegues, muito utilizados para o transporte de pequenas cargas, pelas motocicletas. Até para conduzir o gado, o veículo de duas rodas vem ganhando o espaço. Para as bicicletas, veículos de muita utilidade para o transporte principalmente em cidades menores e com predominância de terrenos mais planos, não há perspectivas nos grandes centros. Praticamente inexistem políticas para a construção de ciclovias voltadas aos trabalhadores. Embora haja exceções, como a implantação de estacionamentos para bicicletas em grandes estações de transporte coletivo da Zona Leste paulistana, onde os trabalhadores podem deixar suas "magrelas" para fazer a integração com o Metrô ou trens metropolitanos, tudo é muito incipiente. Também no estado de São Paulo, na Praia Grande, além da ciclovia construída na orla marítima, que beneficia principalmente os turistas, a construção da Via Expressa Sul, uma rodovia que visa desafogar o tráfego do litoral sul, está sendo acompanhada de uma via exclusiva para bikes, o que facilitará o tráfego principalmente para os trabalhadores da região. Infelizmente, são iniciativas isoladas. Para atrapalhar ainda mais, o mercado brasileiro de bikes sofre com o avanço dos produtos chineses, que chegam aos consumidores, muitas vezes, por preços bastante atraentes. Além de não terem qualquer compromisso com a qualidade, esses produtos são beneficiados pelas baixas taxas de importação. A indústria nacional, sobrecarregada pelo grande número de impostos e pelos altos custos de produção, acabam perdendo competitividade. Desta forma, não é de se estranhar que o mercado de motocicletas só avance, enquanto o de bicicletas encontre grandes dificuldades para se manter em pé. É urgente que o poder público, em diferentes esferas, abra os olhos para facilitar o uso das bicicletas. Nota do Editor: Eduardo Tavarez é gerente da Unidade Bicicletas da Levorin Pneus, é graduado em Engenharia pela FEI, com pós-graduação em administração e economia pela FGV, mestrado em administração de empresas pela USP professor da UNIP e consultor do Bureau Veritas do Brasil.
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