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Opinião
16/12/2005 - 11h18
Patrimonialismo explícito
José Nivaldo Cordeiro - MSM
 

O leitor que me tem acompanhado sabe o conceito que atribuo à palavra "patriomonialismo", que é o sentido consagrado nos dicionários de Ciência Política. É, em resumo, o sistema político em que a coisa pública é confundida com a coisa privada. Freqüentemente usa-se do poder político para se obter o poder econômico e a força de muitos grupos empresariais é explicada por suas interfaces com o mundo burocrático-político. Se eu chamo alguém de patrimonialista praticamente estou equiparando-o a um reles ladrão, ladrão de grande porte, sim, mas há também os de pequeno porte. As muitas bolsas disso e daquilo são genuínas formas patrimonialistas de assaltar o Estado, vale dizer, o cidadão pagador de impostos.

Grande ou pequenos, os rentistas e assaltantes variados do Erário não passam de parasitas que sugam os que trabalham, via sistema tributário.

Esse patrimonialismo à antiga era um tanto higiênico, pois era portador até mesmo de uma moralidade dentro de sua lógica de movimento. Aceitava-se que havia uma aristocracia burocrática que se confundia, ao passar do tempo, com a plutocracia. Valiam as leis, inclusive o Código Penal. Ninguém ia direto ao pote - quero dizer, ao Tesouro - sacar dinheiro para pôr no bolso. No governo Lula vimos que todas as barreiras morais foram deixadas de lado. Afinal, é mera etiqueta burguesa que só atrapalha o apetite dos ratos magros petistas.

Emitir notas fiscais "frias" em valores milionários contra órgãos públicos, como fez Marcos Valério, sem qualquer contraprestação de serviços, é algo de que jamais tive notícia em nenhum tempo em nossa história sofrida. O que se tem noticiado sobre a administração dos fundos de pensão é o fio da meada que vai acabar, se houver vontade política, do que eu duvido, nas enormes fortunas privadas constituídas nos últimos anos. É puro roubo.

Em outro artigo notei que os dois maiores partidos socialistas, que se vêm alternando no poder, estão sob a tutela de um poderoso clã econômico. Um dos seus membros - Tasso Jereissati - preside o PSDB, partido que governou por oito anos e fez a alegria de muitos dos maganos que, com justiça, podem ser chamado de novos ricos. O outro, irmão, é o principal financiador da campanha de Lula. O primeiro tem seu maior aliado e cria político - Ciro Gomes - como ministro de Lula desde a primeira hora. Como se vê, é tudo farinha do mesmo saco.

Diga-se, a bem da justiça, que o patrimonialismo da Era FHC era o da moda antiga, mantinha a etiqueta e coibia o achaque da arraia miúda sobre os que trabalham. Já no governo Lula "democratizou-se" de tal forma que qualquer comissário de terceiro escalão passou a fazer coleta desenvolta de recursos. Essa é a principal linha divisória das suas formas diversas de socialismo.

Mas quero aqui focar outro ponto. Muito me surpreendi à época quando soube que o vice de Lula seria o empresário mineiro, dono da Coteminas, José Alencar. Tinha algo de muito estranho naquela aliança política aparentemente esdrúxula. Os jornais dos últimos dias deram a explicação que faltava e que me escapou pelo simples fato de eu ainda não saber que o nosso patrimonialismo velho de guerra tinha mudado de patamar, para pior. Virou assalto aos cofres públicos na cara dura, com "dinheiro não contabilizado", "caixa 2" e coisa e tal. O depósito não identificado de R$ 1,0 milhão em dinheiro na conta da Coteminas, a empresa da família do próprio vice-presidente, é algo abaixo de qualquer linha de (i)moralidade. É como se o PT tivesse comprado o vice-presidente, seus correligionários, sua sigla, sua honra. É o fim do mundo.

Eu não tinha como saber àquela altura que o PT, sob o discurso de querer aprofundar o socialismo, quis mesmo foi alargar a cloaca pútrida que é a prática política nacional. Clamar por moralidade tornou-se revolucionário em nossos tempos de corrupção endêmica. Estamos séculos atrasados na construção de nosso sistema político, que só melhorará se o passo inicial, que é a separação do que é público e do que é privado, for posto em prática. Infelizmente, estamos longe disso.


Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro é economista e mestre em Administração de Empresas na FGV-SP.

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