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Crônicas
17/12/2005 - 16h30
Os vendilhões da imprensa
Lula Miranda - Agência Carta Maior
 

Algumas questões nos são colocadas nos dias de hoje a todo instante. Uma delas: faz-se mídia, média ou mero comércio de notícias, de "verdades"? Uma outra questão alude a certo maquiavelismo tão presente na imprensa e faz, de modo burlesco, um trocadilho semântico que nos sugere, dentre outras coisas, que não se pode confundir, no "latinório", o plural de mídia com uma mídia plural: os fins justificariam os "media"?

Faz-se necessário e premente buscarmos alguma resposta a essas e outras perguntas se o que se pretende é fazer um jornalismo honesto, o mais próximo possível da ética, do "igualitarismo" (aqui empregado no sentido de se dar tratamento e espaço igual às partes e às idéias) e da verdade. Mas o que seria essa tal verdade? Seria algo que nos (des)orientaria ao sabor dos ventos dos interesses de grupos - tal qual uma biruta de campo de pouso. Essa última pergunta (o que vem a ser a verdade?), por ser demasiado complexa, deixemos ao encargo dos filósofos e pensadores responderem.

Um amigo jornalista ensinou-me certa vez que, em se tratando de jornalismo, existem dois tipos de matéria: a matéria paga e a matéria paga (não, caro revisor, não se trata de repetição indevida; é para manter, assim como está, na edição final). Ou seja, existe a matéria paga em numerário mesmo, em espécie, na boca do caixa, e, claro, sem fatura ou qualquer tipo de registro ou escrituração, e a matéria paga com subjetivas trocas de favores e interesses, com a bajulação, com o compadrio etc. Lógico que esse meu amigo foi demasiado ácido em sua análise. A coisa não funciona exatamente assim - ou, pelo menos, não é sempre assim. Mas alguns episódios que vieram à tona há alguns meses no noticiário dão, sem dúvida, mais força a análises mais ácidas e cínicas como essa desse meu prezado amigo. Senão vejamos.

Certamente você já não se lembra mais, mas no bojo das investigações da Receita e do Ministério Público que tiveram como foco as atividades comerciais da cervejaria Schincariol, descobriu-se, por acaso (como aquele pescador que atira a rede para pegar peixe e junto, de arrastão, vem um ou outro camarão ou lagosta), em certos trechos das escutas telefônicas, conversas de um publicitário oferecendo a um diretor da cervejaria matéria de capa em uma certa revista de circulação nacional pela bagatela de 1 milhão de reais. Assim, graças ao acaso, ficamos sabendo todos (os que ainda não sabiam, claro), por vias tortas, que se pode perfeitamente comprar uma matéria ou artigo de fundo na grande imprensa com um bom punhado de reais ou dólares. Quanto custa a notícia? Quanto vale a verdade? A verdade, cujo conceito anteriormente delegamos aos filósofos, pode ser, digamos, "encomendada" ou "apreçada". Fazemos mídia ou fazemos média? Ou negociamos fatos & notícias, secos & molhados? Alguns, por suposto, fazem negócios - escusos. Seriam esses os vendilhões do templo, digo, da mídia?

Também na CPI (ou CPMI) dos Correios, entre inúmeras denúncias no atacado, contradições, (in)verdades, parlamentares canhestros posando para os holofotes da mídia, parlamentares ciosos do seu dever cívico de buscar a verdade (de novo a verdade, sempre ela) dos fatos e outras figuras mais, digamos, folclóricas, descobriu-se que jornalistas pagam a arapongas para forjar/conseguir-lhes furos jornalísticos. Ou seja, a mesma "Gestapo" que, incrustada na República, oferece seus serviços sujos de espionagem a empresários e políticos, também serve a jornalistas. Alguns desses "arapongas" declararam em depoimento à CPMI por mais incrível que isso possa lhes parecer, fazer "jornalismo investigativo". Parece não haver limites para a cara-de-pau de alguns meliantes. Parece não haver limites para esse tal "jornalismo investigativo"!?

Desnecessário, pois pleonástico, lembrar aqui o parcialismo e partidarismo do jornalismo praticado por veículos como o jornal Folha de S.Paulo, "Estadão" e a revista Veja, assunto já abordado, reiteradas vezes, em muitos dos meus textos.

O saudoso Aloísio Biondi já nos ensinava que alguns jornalistas, quando começavam a conviver mais amiúde com certas castas da sociedade, almoçando em restaurantes caros, hospedando-se em hotéis de luxo e viajando de primeira classe, começavam, numa estranha simbiose, a pensar e a comportar-se como os indivíduos dessa mesma classe social. E, assim, sem perceberem, tornavam-se verdadeiros sabujos das elites. É só dar uma olhada em alguns jornalistas seniors de certos veículos da grande imprensa para constatar esse curioso mimetismo.

Enfim, a devassa que "arapongas", investigadores, promotores e jornalistas têm feito nos intestinos malcheirosos da República, além de revelar a devassidão e podridão das nossas elites, tem trazido, à luz dos holofotes, também a devassidão e podridão de certo tipo de jornalismo, muito praticado hoje em dia, posto que é hegemônico nas Redações e, principalmente, no departamento comercial dos grandes veículos de comunicação. Um jornalismo que atende prioritariamente a interesses privados (partidários, empresariais, "de mercado", "de classe" etc.) em detrimento do interesse público. Parece que Biondi estava mesmo correto em sua acurada observação: o aburguesamento mimético por que passam os jornalistas lhes tem sido deveras deletério. Mas mais deletério, pode estar certo disso, terá sido ao jornalismo. E ao país.

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