O Ibope fez uma pesquisa para verificar quais as instituições e profissões com maior credibilidade entre os brasileiros. A medicina ganhou fácil, com uma taxa de credibilidade de 85% . O que deve ter surpreendido algumas pessoas, porque, dias depois, um jornal do Rio de Janeiro entrevistou-me para saber a que eu atribuía um índice tão expressivo. Boa pergunta, sobretudo quando se considera que nem sempre os médicos foram bem-vistos. Os assaltantes roubam-nos nas montanhas, diziam os antigos romanos, e os médicos assaltam-nos na cidade. De outra parte, a ignorância sobre a enfermidade e até sobre o corpo humano foi durante muito tempo a regra na prática profissional: diagnósticos fantasiosos, terapias ainda mais fantasiosas. Como disse Voltaire no século 18, "A arte da medicina consiste em distrair o paciente enquanto a Natureza cura a doença", e Benjamin Franklin acrescentava: "Deus cura e o médico fica com os honorários." Isto mudou radicalmente com a revolução científica que chegou à medicina nos últimos dois séculos e que resultou em progressos impressionantes. Só para ficar com dois exemplos, vacinas e antibióticos evitam ou curam doenças que antes dizimavam populações inteiras. A medicina é, em grande parte, responsável pelo aumento da expectativa de vida que ocorre na maioria dos países, entre eles o Brasil. O que gera, por sua vez, problemas complicados. Exatamente porque confia na medicina, a população procura os serviços médicos. É uma grande demanda, daí as filas, a burocracia, o atendimento postergado ou recusado, tudo isto dando manchetes em jornais e reportagens no rádio e tevê. Pergunta: como se explica então, que apesar destes obstáculos não raro trágicos, as pessoas continuem confiando na medicina? Tive a resposta no último sábado, quando fui à festa de formatura da Fernanda, filha de meu colega e amigo Sérgio de Paula Ramos. Em rápidas palavras, a jovem doutora lembrou sua passagem pela Faculdade de Medicina, o trabalho e o esforço que eram plenamente compensados, disse ela, pelo agradecimento dos pacientes, ou mesmo pelo silêncio deles. Aí está. Profissionais que se sentem recompensados até mesmo pelo silêncio daqueles a quem ajudaram, realmente merecem confiança. A população sabe disto. E a enquete simplesmente traduziu o agradecido silêncio em um número que fala por si.
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