Todo ano, mais ou menos nessa época, eu fico meio bobo. Eu até que tento botar panca de quem não está nem aí com isso tudo, mas é uma grande porcaria: o Natal é mesmo uma coisa complicada. A gente está ali, caminhando, observando as pessoas correrem de um lado para outro, cheias de pacotes, e a gente fica imaginando como é que pode. Que essa sociedade capitalista é mesmo de amargar. Que a gente fica vendo propaganda na TV e acaba com vontade de comprar uma coisa que a gente nunca pensou em ter. Um home theater, por exemplo. Como é que nós conseguimos, até hoje, assistir televisão sem um home theater? Desses, que já vem com DVD, Conjunto de Caixas Acústicas, Subwoofer, MP3, Progressive Scan e tudo o mais? Pois a humanidade sobreviveu muito bem sem home theather até dois, três anos atrás. Agora, quando os amigos chegam em casa e vêem que eu não tenho home theater, eles me olham como se eu fosse um alienígena. Quer dizer, todo mundo fica meio maluco com esse negócio de propaganda natalina. Eles olham esses celulares novos e ficam babando. São celulares que permitem o download de imagens e uma alta capacidade de transmissão de dados, uma agenda telefônica com 169 memórias, gerenciador de informações pessoais, toca MP3 (parece que tudo agora toca MP3) e câmera fotográfica. O quê? O seu celular não tem câmera fotográfica? Aí todo mundo compra o tal celular com câmera fotográfica, embora já possuam em casa três câmeras fotográficas, uma de filme mesmo, e duas máquinas digitais, uma de três megapixel, já meio ultrapassada, e outra, essa novinha, último lançamento, que suporta até nove megapixel, embora o fulano não tenha a menor idéia do que seja um megapixel. Eu, sinceramente, acho que a propaganda devia ser controlada, assim como as drogas, o cigarro, as bebidas e tudo o mais. Um cara que começa a ver muito televisão, quer porque quer comprar um aparelho de som novo, embora o dele ainda esteja novinho em folha porque ninguém ouve música mesmo na sua casa. Mas ele quer assim mesmo. Só para colocar ali, eu acho. E ficar olhando. E essas novas TV’s, então? Tem televisão agora que custa mais caro que minha casa. É verdade. Noutro dia desses, eu vi uma televisão, dessas fininhas, de pendurar na parede, que custava 44 mil reais! Quarenta e quatro! E a gente fica pensando nessas coisas, e vê como o Natal é uma coisa hipócrita e mesquinha. Mas aí a gente ouve uma música, saída de uma loja, um jingle bells qualquer, ou aquela da Simone "então é natal, bom ano também" e os olhos da gente ficam cheios de lágrimas. Dá até raiva.
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