Desde o dia cinco deste calorento dezembro no Sertão, procuro tempo para falar de mim mesmo. Jornalista gasta horas e horas escrevendo sobre outros, pra si o tempo é curto, e quase sempre passamos no anonimato, mesmo vencedores de batalhas! Quem sabe precisamente o número de jornalistas que temos no Brasil? Mas talvez seja fácil contar os que permanecem na mídia. Necessitamos falar de nós próprios, mostrando o que fizemos de bem e, com certo atrevimento, o que nos arrependemos de ter feito. Jornalista é cidadão, e ser humano, tem as vaidades de todos, e como muitos deve ser benemérito da comunidade. Jornalista que não vive o meio, se limitando apenas escrever sobre ele, certamente perderá muitas palavras que deveriam ser escritas. O jornalismo no rádio ou na TV é diferente do escrito, isto todos sabem. Mas há uma diferença que às vezes não é percebida: A voz, a imagem do jornalista no noticiário falado e televisado, já é uma mostra do profissional ao público ouvinte ou telespectador. Enquanto na imprensa escrita a imagem do jornalista se retém ao teclado. Somos anônimos, ao menos que também sejamos notícia! Um fato pioneiro Debruçado na lei, lendo a respeito de procedimentos do judiciário, eu que não sou advogado ou juiz, encontrei uma curiosidade: - Ao juiz cabe a destinação das armas que estiverem aprisionadas nos fóruns. Existe um procedimento adotado que é a entrega dessas armas por meio ofício ao Exército, que se encarregará da destruição. No entanto, onde o Exército não comparece para recebê-las, pois cabe a ele a escolta para transitar com essas armas, o juiz pode dar fim em sua própria comarca. Pode passar um trator por cima, mandar derreter, e até doá-las, por exemplo, a um efetivo policial. Juizes de todo o Brasil têm pedido a retirada das armas dos fóruns, pois é causa de insegurança, posto que essas repartições não são arsenais e nem foram projetadas para tal fim. Um juiz que atua na minha região sempre me contava do seu temor, em ter ao lado de seu gabinete, no Cartório da Vara Crime, mais de cem armas, de processos já julgados e transitados, em um prédio de pouca segurança, e mais preocupado ficou ao ler notícia de que outro fórum, também na Bahia, havia sido arrombado e de lá bandidos levaram meia-centena de revólveres. Veio então a Campanha do Desarmamento, e a Polícia Federal no mês de agosto deste 2005 se fez presente em Guanambi com seu balcão móvel. Assim que em nosso solo pisou, como cidadão muito mais do que repórter, me cheguei até a autoridade e pedi que fosse até Palmas de Monte Alto, a cidade do juiz preocupado, distante quase cinqüenta quilômetros, para lá recolher armas e munições também. O meu pedido foi atendido de pronto, e no mesmo dia à tarde seguimos em comboio para lá. O juiz, comunicado por mim, já nos esperava. No caminho conversei com a delegada federal Lúcia Machado Castralli sobre as armas a serem recolhidas no fórum e serem entregues com retorno financeiro para a comunidade, para indenização, Ou seja, o juiz deu uma sentença de destinação das armas, "doando-as" à entidade beneficente Clube das Mães, e embora os armamentos fossem recolhidos diretamente na sala da Vara Crime, a então Campanha do Desarmamento preencheu cada uma das guias de entrega a favor da entidade beneficiada. Foram 88 armas que renderam R$ 9.000,00. Seguindo o exemplo de Palmas de Monte Alto, na manhã do dia seguinte, me reuni com o presidente do Conselho Comunitário de Segurança Pública - CONSEP, órgão que também já presidi, e fomos até a juíza de nossa comarca, e ela, entendendo a minha proposta, determinou a entrega de 245 armas com "doação" ao conselho, que assim recebeu R$ 25.000,00. A delega federal, dois serventuários da justiça local, dois investigadores da Polícia Federal, uma perita em armas, o presidente do conselho, e este jornalista, ficamos das 12:00 às 22:00 horas selecionando as armas e munição, catalogando e preenchendo formulários. Fizemos um lanche em meio aquele arsenal. Da Delegacia Regional pessoalmente recolhi nove armas que ali estavam sem procedências, destas que bandidos jogam no mato quando em fuga, ou entregues por desconhecidos, alguns até alegando que acharam na rua! Essa eu assumi como "proprietário" e destinei a indenização à Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais - APAE, que recebeu R$ 1.000,00 extras. Nada mau, não? Por este pioneirismo me orgulho, envaideço, ergo a cabeça, e me faço humilde em dizer que tive a idéia, mas que ela não valeria nada sem a atenção do juiz e da delegada. No dia 05 dezembro, em solenidade no Salão do Júri do Fórum da Comarca de Guanambi, para a qual fui convidado em clima de "mistério", fui homenageado pela Justiça da Bahia, pelo Conselho de Segurança e pela Polícia Federal pelo pioneirismo. Isso me fez bem! Mas me ponho a pensar: - Por que a chamada grande mídia, tão observadora com diz ser, não percebeu os fatos e não deu uma linha a respeito? Por que todo o Brasil "comeu barriga", quando milhões de reais poderiam ter sido destinados a obras sociais em todo o território nacional? Por que algumas outras comarcas aqui da região, com as quais fiz contato a respeito, não acreditaram no Jornalista do Sertão? Poucos têm a preocupação de investigar leis que favoreçam e benefícios para sua comunidade. Em tempo: A delegada de Polícia Federal Lúcia Machado Castralli ficou conhecida na mídia nacional por ter apurado a execução do juiz Antônio José Machado Dias, em Presidente Prudente, onde era titular da Delegacia da Polícia Federal, o que lhe resultou ter a residência metralhada como ameaça. Hoje tem a titularidade da Delegacia Especial de Desarmamento - DESARME, da mesma polícia em Salvador. Com sua vinda a Guanambi, onde nos empenhamos para fazê-la sentir-se bem, já resultou em desbaratamento de uma das maiores quadrilhas de assalto a bancos, com prisão de doze elementos que aqui se estabeleceram, mas graças que não são daqui, todos fortemente armados com fuzis, metralhadores, pistolas com infravermelho. Dias após o estouro de uma fábrica clandestina de munições de munições de caça, e estão em curso investigações. Isto a grande mídia soube noticiar. O bem serviço, o pioneirismo, a homenagem, só não calou na porta do fórum porque amigos que não são jornalista contam boca a boca que Guanambi é uma cidade de vanguarda! Nota do Editor: Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, com o título de "Jornalista do Sertão", editor do jornal Vanguarda - Guanambi, BA.
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