Recebi um artigo do diretor teatral Gerald Thomas, detonando com o Ministro da Cultura Gilberto Gil. Deslumbrado pelo poder, Gil estaria acabando com o teatro, para decepção da classe artística que esperava que um músico colocasse o cenário cultural brasileiro nos eixos. Na mesma semana, leio na revista Carta Capital um artigo de um professor da USP indignado com a forma como viu a reunião de pauta do Jornal Nacional, da Globo, ser conduzida por seu editor-chefe, Willian Bonner. Nas palavras do professor, Bonner teria dito que o telespectador padrão do Jornal Nacional é um Homer Simpson, personagem de desenho animado estadunidense que representa um pai de família medíocre. Encarando seus telespectadores como "homers", Bonner descartava temas com conteúdos que interessariam à sociedade, em favor de outros mais sensacionalistas, que dariam maior audiência. Esses dois fatos me levam a uma reflexão. Gilberto Gil é burro? Quer o mal para sua classe? Willian Bonner é medíocre? Interessado na desagregação da sociedade? E o Fausto Silva? E o Jô Soares? O Pedro Bial? São medíocres? Claro que não. Essas pessoas estão entre as mais brilhantes personalidades da TV e do cenário cultural brasileiro. E quem os conhece pessoalmente afirma que são gente fina, esclarecida, muito boa para se conversar e bons amigos. São pessoas inteligentes produzindo resultados comercialmente interessantes, mas culturalmente discutíveis. Pois é... O sistema é mais forte que os indivíduos. Cada um dos nomes que citei, foi engolido por ele. Precisando jogar pelas regras do sistema, Gilberto Gil decepciona sua classe. Fausto Silva joga no lixo horas valiosíssimas da televisão. Pedro Bial dá um nó em sua biografia ao virar apresentador de reality show. Jô se perde em entrevistas medíocres. Impossível não recorrer ao exemplo do Dr. Adib Jatene, médico, cientista, pessoa íntegra, brilhante, que ao assumir o Ministério da Saúde deixa como legado... A CPMF. Adib Jatene é ruim? Desonesto? Claro que não. Mas o sistema é burro. Transforma uma idéia honesta numa armadilha. Pois proponho um movimento de libertação. Uma carta de alforria que liberte os Gils, Bonners, Bials, Jôs, Faustões e outros, das garras do sistema que os aprisiona. Livres, poderão se recuperar e usar seu talento, como um dia fizeram, a serviço da sociedade. Quem sabe, mudando a história deste país. Mas a alforria não vale pra todos. Os Gugus, João Klebers, Gilberto Barros e seus diretores, não têm jeito. Se libertos, são capazes de piorar. Nota do Editor: Luciano Pires é jornalista, escritor, conferencista e cartunista.
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