Do lado direito de onde moro, aqui em Fortaleza, existe um prédio. Poderia ser mais um entre tantos, mas é desses do tipo "flat". Flat é uma palavra inglesa que pode significar apartamento, mas não necessariamente. E significa também planície ou plano. Mas resolveram entender que "Flat" seria um conjunto de apartamentos pequenos, entre 25 e 60 m², para venda ou locação, administrado como se fora um hotel, sem sê-lo. Ocorreu uma profusão de construção de "flats" no final dos anos 80 e por toda a década de 90. O "Flat" é uma entidade híbrida: nem é edifício residencial, nem deixa de ser, e também não é um hotel, embora reúna algumas de suas características . Pois bem, esses tais "flats" são, em boa parte, ocupados por residentes nativos, pessoas comuns e ordeiras de todas as cidades, mas a sua população variável é composta, quase sempre, de estrangeiros, que vêm para cá na certeza de que isto aqui é um paraíso sexual. Não escrevi tropical, escrevi sexual. Quem quiser ver cenas de nudez e correlatos é só se demorar um pouco olhando para os tais "flats". Há de tudo. Recentemente, por exemplo, vi um já combalido senhor, em plena calma e total nudez, de pé na minúscula varanda, como se estivesse em uma colônia nudista. E o fazia como se fosse o único habitante da selva, tal qual um Tarzan, mas sem a tanga. De outra feita, vi as figuras e ouvi todos os ruídos, sussurros e os gritos finais de uma relação entre uma bem jovem morena e um brancoso quarentão. Nada de puritanismo, tampouco de estupefação, mas esta terra precisa de uma definição turística mais lisonjeira. Hoje, quase todo taxista que estaciona seu carro defronte a esses flats, alguns bares e boates, sabe a razão dessas viagens organizadas por operadoras estrangeiras que praticam preços baixíssimos em moeda estrangeira. Os turistas, na maioria homens em grupos, trazem endereços, cotações dos serviços, fotos e outras indicações que tais. O que causa constrangimento é ler nos jornais que o turismo está sendo incrementado e que devemos receber bem os nossos visitantes. O que realmente é importante, justo e até bíblico. Mas, os que cuidam do turismo não podem fazer vistas grossas de tantos fatos sabidos, repetidos, comprovados e divulgados pela imprensa. Não vale a pena a quantidade de turistas de segunda classe que chegam, até infectam pessoas, degradam áreas, gastam míseros reais e saem propagando que aqui é terra de ninguém. E novas hordas chegam ávidas. Basta acompanhar os roteiros que fazem. É simples constatar. O que falta?
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