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Opinião
22/12/2005 - 14h19
A fêrinha Ripi e a mudança de cabeças
Renato Nunes
 

O local onde há anos funciona a fêrinha ripi foi inicialmente ocupado como quadra de bola ao cesto à disposição da comunidade. Bastava querer bater uma bolinha, juntavam-se uns amigos e, estando vaga a quadra, podia-se jogar à vontade até o escurecer. O Eduardo Souza ou o Herbert Marques entre tantos outros, que o digam.

A população cresceu e o espírito de camelô que há tempos perambula por esta cidade resolveu transportar a incipiente exposição de artistas e artesanato que existia no meio do jardim da praia do Cruzeiro para a quadra de bola ao cesto de nossa moçada. Diziam que não iria prejudicar os bate bola de fim de tarde, pois o artesanato somente seria mostrado ao distinto público nas noites de sábado e tardes de domingo. Para receber a autorização da Prefeitura obrigavam-se a desmontar e sumir com as barracas enquanto não estivessem expondo, para que a quadra pudesse continuar à disposição da comunidade. Só que as cestarias, entalhes, esculturas e os mais variados objetos artesanais, difíceis de serem transportados nas costas no vai e vem do monta desmonta, e sem o menor apoio da administração municipal, sempre cega diante do potencial turístico do artesão legítimo, foram perdendo espaço para os fazedores de bijuterias. Aos brasileiros de todas as partes do país foram aos poucos se juntando simpáticos argentinos, uruguaios, peruanos y tantos otros muchachos de latino-américa acompanhados por sus flautitas repetitivas e infernales, que ampliaram e renomearam o grande espaço. Nasceu a "fêrinha ripi", despersonalizada, igual a tantas outras espalhadas pelo Brasil, escoadouro do comércio da Rua 25 de Março, o verdadeiro industrianato ao alcance de todos ao qual deram o estranho nome de "produtos afins". Hoje querem cobri-la independente da horrorosa montanha visual com que pretendem brindar a orla marinha da cidade. Amanhã por certo haverá um candidato a prefeito que se comprometerá, pelos votos, a cerca-la e fecha-la para segurança das instalações. Perdeu-se de vista o interesse com a paisagem que é um bem de todos, e também já vai muito longe qualquer compromisso com a preservação dos valores da cultura popular manifestados através do artesanato.

Não se trata agora de menosprezar a luta e o sacrifício dos que sobrevivem da fêrinha, mas não se pode ignorar que essa é a história de um episódio urbano cujo significado atinge toda a cidade.

Com absoluta certeza se pode afirmar que perante a atual Constituição, o Estatuto da Cidade, a legislação que protege o patrimônio cultural e a lei de Responsabilidade Fiscal, a execução da monstruosa cobertura caminha na contra mão dos direitos do cidadão porque nunca houve qualquer consulta popular sobre o assunto. Não existe referendo popular para implantação desse trambolho, corte das árvores e descaracterização da paisagem. Sabe-se que a cobertura é uma herança, um acordo de campanha eleitoral feito à portas fechadas na administração passada. Com que direito alguém poderia pensar em pagar os votos recebidos em caráter pessoal com privilégios urbanísticos que comprometem um bem coletivo?

Essa é a questão central que da mesma forma que a questão das bicicletas e dos quiosques terão que ser decididas em conjunto com a população. Não é assunto exclusivo dos vereadores nem dos prefeitos. O Estatuto da Cidade lhes retirou essa prerrogativa. Hoje é assunto obrigatório para o Conselho Municipal de Desenvolvimento. A modernidade somente será implantada em Ubatuba com a já tardia e há muito sugerida criação de um Instituto Municipal de Planejamento Urbano. Com autonomia técnica e independente dos trabalhos de rotina das Secretarias políticas e administrativas de hoje, esse tipo de órgão foi o responsável pelo acertado desenvolvimento das melhores cidades brasileiras.

Com a palavra e com a caneta o Prefeito Eduardo César.


Nota do Editor: Renato Nunes é arquiteto e morador de Ubatuba, SP.

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