A história da crônica criminal registra milhares de crimes que se perpetuaram como casos insolúveis. Esse não é nenhum fenômeno novo se bem que, quanto mais tempo passa, quanto mais o crime de morte se banaliza, mais e mais o brasileiro aprende a conviver com casos que a polícia não consegue, não quer ou não deve solucionar. Quem por exemplo matou o cangaceiro Virgulino Ferreira, mais conhecido como Lampião? Tudo o que se sabe é que foi uma volante comandada por um certo Tenente João Bezerra, da polícia alagoana. Ninguém sabe exatamente quem puxou o gatilho da arma que matou Lampião e Maria Bonita acoitados na fazenda Angicos, há mais de 65 anos. Ninguém sabe também quem matou Carlos Lamarca. Sabe-se que foi num ataque surpresa das forças de segurança comandadas por um certo Major Cerqueira, oficial do Exército brasileiro. Mais de 30 anos depois, outro crime famoso entrou para o rol dos insolúveis: numa esquina da rua do Acre, no centro do Rio de Janeiro, local supermovimentado, atiradores profissionais mataram o ex-policial Mariel Mariscot de Matos. Em São Paulo, o governador do Acre, Edmundo Pinto de Almeida foi morto dentro do hotel Della Volpe, os prefeitos de Campinas e de Santo André também morreram em circunstâncias misteriosas. A lista dos crimes insolúveis envolvendo personalidades conhecidas é enorme e atinge todos os Estados brasileiros. Se fossem contabilizados os anônimos assassinados que nunca tiveram seus assassinos denunciados, a lista seria muitas e muitas vezes maior. O destaque para personalidades famosas de segmentos que vão da política ao mercado financeiro tem um objetivo: o de apontar a falta de interesse de grupos ou de autoridades em perpetuar o manto de mistério sobre determinados crimes. O caso Paulo César Farias, em Alagoas, é emblemático. Ninguém jamais vai saber com exatidão o que aconteceu naquela noite na casa da praia de Guaxuma, quando o ex-tesoureiro do então presidente Fernando Collor de Melo foi assassinado junto com sua namorada Suzana Marcolino. No Rio de Janeiro, jamais se saberá quem matou Mariel Mariscot, bem como, continuará sendo um mistério eterno, o assassinato do contraventor Valdemir Paes Garcia, o Maninho, morto a tiros em frente a uma academia de ginástica nas proximidades da Cidade de Deus. Aliás, nos crimes em que as vítimas são contraventores do jogo do bicho, o mistério é total. Não se sabe quem matou Jorge Elefante, de Niterói, quem emboscou e assassinou Paulinho Andrade, filho de Castor de Andrade ou quem matou Marquinhos, filho de Raul Capitão. E os milhares de anônimos que morrem todos os dias nas grandes metrópoles como Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo. Esses se transformam em números e passam a fazer parte de uma macabra e desumana estatística: a dos crimes sem solução. Os motivos para a não elucidação de casos de assassinatos passam pela incompetência das polícias, necessidade de acobertar para proteção de figurões carimbados e desinteresse total e absoluto das polícias, dos governos e do Ministério Público dos estados. Nota do Editor: Geraldo Lopes é jornalista.
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