Tudo aconteceu na manhã de hoje, dia 23 de dezembro. Fiquei até na madrugada fechando a edição de Natal, e li e escrevi quase uma centena de mensagens de fim de ano, algumas tão fora da realidade, fingidas, superficiais. Mas é ao gosto do freguês! Altenir, minha amada companheira, devido ao meu cansaço, me substituiu na missão de levar o vegetal à gráfica, que em outro município, distante 140 quilômetros, imprime nosso Vanguarda. As crianças na casa da tia e o ambiente da casa silencioso. Sem tarefas, me coloquei a janela para olhar a rua de uma maneira que fazia tempo não olhava. Observo um homem, negro, pobre, humilde, de seus quarenta anos, revolvendo o lixo de uma residência de luxo! Estaria desejoso de achar ali uma jóia perdida ou uma televisão jogada fora? Não! Perguntei a ele se procurava latinhas de cerveja ou garrafas plásticas: - Os dois! Respondeu-me. O mandei entrar e seguimos até a dispensa, e o homem, que eu não conhecia, viu quase uma centena de garrafas de refrigerante dois litros. Aqui nada se joga fora! Ele me agradeceu me chamando pelo nome! - Você me conhece? - Quem não conhece o senhor? E declarou-se leitor do jornal que edito. Fiquei maravilhado! Curioso, o perguntei por quanto vendia uma garrafa daquelas, e fiquei sabendo que estando em bom estado, limpa e com tampa, como era o caso das que eu tinha em casa, o homem que fabrica desinfetante caseiro o paga dez centavos. Cento e três garrafas foram contadas, o que resulta em dez reais e trinta centavos. Ao se despedir com dois enormes sacos com garrafas de plástico pendurados as costas, como se fosse um duplo Papai Noel em roupas tropicais, ele se voltou e, com um sorriso de criança, me deu o mais sincero Feliz Natal e Próspero Ano dos que me deram este ano. Não ficou na esfera do coração, mas penetrou profundo. O jornalista que se comunica se torna bastante conhecido, mas pouco conhece. Talvez eu já tenha escrito sobre aquele homem, ou sobre pessoas que catam papéis e garrafas vazias, mas nunca havia praticado o gesto espontâneo de pensar que meu lixo pode ser luxo para o próximo. Marquei com Geraldo uma entrevista para uma próxima edição. Farei fotos, narrarei com fidelidade que ele não é infeliz, só não tem a felicidade de vender jornais como eu literalmente faço. Ele vende garrafas vazias! Mais uma vez: Feliz Natal e um 2006 razoável! Nota do Editor: Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, Guanambi - Bahia.
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