- Eu odeio fazer isso. - Fazer o quê? - Comprar presentes. - Você odeia comprar presentes? - Odeio. - Mas, dar presente é tão gostoso, oras. - DAR o presente é gostoso. Eu não gosto é de ESCOLHER os presentes. - Mas por quê? - Por exemplo, o que é que eu dou para o seu pai? - Para o meu pai? - É. Para o seu pai. - Oras, qualquer coisa. - Me diz aí, uma. - Bem, a gente podia dar pra ele uma... uma... câmera digital! - Ah, é? E quanto custa uma câmera digital? - Sei lá, uns quatrocentos reais. - Pois então multiplica quatrocentos por oito e vê a fortuna que dá. - Por que por oito? - Oito. Seu pai, sua mãe, sua irmã, seu irmão, meu pai, minha mãe, meus dois irmãos. Oito. E oito vezes quatrocentos reais dá... dá... - Três mil e duzentos reais. - É. E nós temos três mil e duzentos reais para dar assim, só de presente? - Então quer dizer que a gente tem que dar presente do mesmo preço pra todo mundo? - É. Ou você quer dar um presente mais barato para o MEU pai? - Acontece que o seu pai JÁ tem uma câmera digital. - E daí? Nem por isso a gente vai dar uma porcaria pra ele. - Ninguém está aqui falando em porcaria, mas em coisa que eles precisam. - E por um acaso você sabe do que o meu pai precisa? - Bem, outro dia ele me falou que queria o último livro do Jô Soares e... - Ah é, bebé? Pro seu pai, um presente de quatrocentos, pro meu, um de cinquentinha? - Mas foi seu pai quem pediu! - Não tem pediu nem não pediu, tem que ser igual pra todo mundo! - Quer dizer então que se eu quiser dar para o MEU pai uma câmera, eu não posso? - Não. - Então esse ano ninguém ganha presente. Pronto. Tá bom assim pra você? - Está. Pra mim, tá tudo bem. A gente até economiza... No fim do dia, estavam fazendo as contas em casa. O talão de cheque e alguns cartões de crédito espalhados pela mesa. O marido batendo o dedo numa calculadora. E um monte de pacotes espalhados pelo chão. - Pombas, foi o meu décimo-terceiro inteirinho... - Bem, pelo menos esse ano não ficamos devendo...
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