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Opinião
27/12/2005 - 09h04
Erosão do compromisso
Pedro J. Bondaczuk
 

A mudança que se verifica no comportamento das pessoas nestes anos iniciais do terceiro milênio da era cristã se caracteriza, em especial, pela degradação de alguns conceitos tidos como básicos para civilizações. Palavras como dever, pátria, amor, lealdade, gratidão, honra, honestidade perdem cada vez mais seu sentido original pela inadequação do uso. De todas elas, porém, a que provavelmente mais se desgastou foi "compromisso". Ou seja, "promessa para com alguém", que é o seu verdadeiro significado.

O termo, e pior do que ele, o ato vêm sofrendo erosão em todas as relações humanas. Na política, no convívio social, no casamento - instituição francamente em crise, conforme revelam as estatísticas.

Ao lado dessa palavra, sua "irmã gêmea", "contrato", vem caindo no ridículo. Havia um tempo em que, quando duas partes combinavam algo, era dispensável que se redigisse algum documento para testemunhar essa combinação. Bastava a palavra dos contratantes. E o compromisso era respeitado às últimas conseqüências.

Hoje, termos extensos, repletos de cláusulas, registrados em cartório, firmados por diversas testemunhas, são desrespeitados sem a menor cerimônia. Esse é um dos motivos da crise que a humanidade toda vive neste período tão rico de promessas e paupérrimo de resultados.

O jornalista, filósofo e político francês, Raymond Aron, observou, com muita propriedade: "O compromisso é uma necessidade, não um valor". Sem ele, qualquer sociedade se transforma num amontoado de pessoas, num grupamento caótico, em que ninguém respeita a esfera do direito alheio.

Parte da culpa pela erosão desse princípio básico de civilização cabe à educação, ou melhor se diria, à deseducação caracterizada por se rotular como "demodé" todos os valores tradicionais: a ética e o respeito mútuo entre as pessoas. Quantas vezes observei colegas de redação ridicularizando esses conceitos, como se fossem, de fato, ridículos. Todavia, evidentemente, não são.

Políticos fazem promessas em profusão, já sabendo de antemão que não poderão cumprir. Casais juram reciprocamente "amor eterno", esquecendo-se da própria efemeridade. Pessoas as mais diversas, muitas inclusive ostentando uma respeitabilidade que sequer possuem, empenham suas palavras de forma solene, para em seguida quebrá-las, negando, inclusive, que tenham assumido qualquer compromisso.

Hoje em dia há dois tipos de miséria, ambos perniciosos e degradantes. Um é o caracterizado pela falta até do essencial para a sobrevivência, no qual estão mergulhados dois terços da humanidade. O outro é até mais grave e assola nações ricas e poderosas. É o que o escritor argentino Ernesto Sábato classificou de "miséria espiritual", que se abate, sobretudo, sobre os países do Primeiro Mundo.

Cabe aos que desejam conservar seu acesso à cidadania lutar pelo resgate do compromisso, do contrato, do dever e do patriotismo. Agir como Almeida Garret, que sentenciou: "Como cidadão, nunca renunciarei a um direito". E, acrescentaríamos, "jamais deixarei de cumprir um dever"!


Nota do Editor: Pedro J. Bondaczuk é jornalista e escritor.

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