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Opinião
01/01/2006 - 07h01
A interdisciplinaridade no ensino
Maria Alice de Castro Rocha
 

As grandes transformações socioeconômicas e científicas evidenciam a grande responsabilidade da educação: preparar pessoas capazes de dominar conhecimentos sedimentados e amealhados ao longo da história da humanidade e formar seres aptos a lidar com o inusitado. O novo e o diferente pedem novas respostas. Dois grandes desafios podem ser destacados: a questão da escolha do melhor e a de como sorver o conhecimento que chega por meio de filtros, de separações, para lhe dar nova forma. Aqui, pode-se destacar como um desafio educacional a compreensão da interdisciplinaridade.

Esta parece surgir como grande salvadora: passa a ser geradora de novos cursos e de ações educacionais. Anuncia a quebra de grilhões e a entrada no novo, que não mais precisa prender-se a caixas cuidadosamente empacotadas, as quais parece que precisam ser abertas e misturadas, pois isto é moderno. Ela apresenta um novo movimento sobre o qual é preciso refletir para que não se caia em algo vazio e apenas ligado a um modismo.

Primeiramente, é necessário que se pense em por que criamos disciplinas e divisões científicas. Não se pode considerar que, hoje, por sermos mais iluminados, percebemos que isto é bobagem. As separações surgiram como forma de se ordenar os saberes, que se tornavam cada vez mais complexos e variados. Apareceram, portanto, em decorrência dos avanços científicos e tecnológicos e de nossas condições humanas, que nos colocam diante de olhares em perspectivas.

A complexidade não diminuiu; ao contrário, aumentou e vem sendo estudada e considerada. Ela mostra que, embora precisemos de filtros para nos organizar, há correlações múltiplas entre os vários eventos físicos, biológicos, psicológicos e sociais. Desta forma, abre-se a necessidade de se pensar a interdisciplinaridade: seu sentido e suas possibilidades. Começou a ser discutida por Jean Piaget, há décadas, por sentir que as ciências avançavam e era preciso estabelecer formas que possibilitassem a troca produtiva entre elas, sem que se causassem distorções múltiplas.

Piaget destaca um dos pontos importantes à Interdisciplinaridade: a meta-cognição, visando, sobretudo, a destacar a importância do estudo do sentido da linguagem e da visão sobre a realidade, elaborado pelos diversos ramos científicos, para que possa haver trocas que sejam complementares, mas não simplificadoras. Há, ainda, outros movimentos importantes e que exigem estudos. Um deles é a busca de subsídios em diferentes ciências, em direção a ações práticas, isto é, voltados a resoluções de problemas, por meio de novas criações.

Não se pode desprezar a maneira como o indivíduo, na sua ação educacional, cognitiva e prática, vai aprendendo a ser interdisciplinar, isto é, ousando colocar-se como um ser de escolhas e compromissado diante de um mundo a ser constituído por todos. Há, aqui, a idéia do ser ético e construtor de conhecimento a partir de trocas com o próximo e de re-elaborações contínuas. Este último movimento vem sendo estudado especialmente por Ivani Fazenda, que destaca a formação do professor interdisciplinar como um ser crítico e em situação que é capaz de dar voz ao outro e permitir a constituição de um ambiente de criação.

A interdisciplinaridade deve levar em conta o homem como um ser capaz de encontrar formas de se aprofundar numa dada ciência e de buscar linguagens cada vez mais precisas, mas, sobretudo, apto a estabelecer correlações, ações e caminhos novos. Isto contém a idéia de um ser capaz de escolhas e decisões éticas e críticas, que leve em conta não só a própria identidade e dignidade, mas também o sentido de cada movimento para o âmbito social. A idéia da complexidade e da interdisciplinaridade pressupõe que nenhuma ação possa ser considerara fechada em si mesma, mas que sempre pode repercutir em uma correlação de implicações múltiplas.


Nota do Editor: Maria Alice de Castro Rocha é educadora, doutora em Psicologia do Escolar e Desenvolvimento Humano (USP-SP); mestre em Psicologia da Educação (PUC-SP); Psicopedagoga (Sedes Sapientiae), membro do GEPI (Grupo de Estudos Interdisciplinares - PUC-SP); professora de Pedagogia e coordenadora do curso de pós-graduação Formação Docente (Faculdades Integradas Rio Branco).

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