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Opinião
01/01/2006 - 15h00
O ano novo e os velhos vícios
Ubiratan Iorio - Parlata
 

Ano novo é tempo de afastar as más lembranças, formular boas esperanças e tentar arrancar do tempo futuro suas inextricáveis tranças, que só ele poderá desenrolar. No plano pessoal - e isto é perfeitamente justo e desejável - cada um de nós deve aspirar a um ano novo feliz, examinando os próprios defeitos e tentando corrigi-los, fazendo novos planos, buscando, enfim, ser mais feliz. Afinal, podemos dizer, com Henri Bergson, que o tempo nada mais é do que "um fluxo contínuo e dinâmico de novas experiências". Se soubermos usar nossa experiência, isto é, nosso estoque de conhecimentos desde que nascemos até o momento atual, se a interpretarmos corretamente, poderemos formular expectativas quanto ao futuro plausíveis com a nossa felicidade; no caso contrário, se utilizarmos mal nossa experiência, ao desdobrarmos o tapete do tempo, surgirá diante de nós uma estamparia de erros, decepções e ilusões. Pois o tempo real é como a música, possui uma estrutura dinâmica, que abrange a memória e a antecipação. Mas parece que os eleitores brasileiros desconhecem ambos...

O que reserva para a nossa sociedade o ano de 2006? Que tramóias em cada esquina, corrupções em cada quina e patifarias em cada oficina estarão aprontando o banditismo - oficial e informal -, que a cada ano mais se refina?

Nosso povo vai, mais uma vez, esperar o tapete das desilusões ser desenrolado por patifes travestidos de homens e mulheres públicos ou vai, por conta própria, tecer, ele mesmo, uma nova estamparia, mais racional e, portanto, mais apta a fazê-lo mais feliz?

Até o sapo cururu - aquele que coaxa na beira do rio - sabe que é impossível, dentro das condições atuais que constituem nosso estoque de conhecimento, o Brasil ser posto nos trilhos do progresso material, cultural e espiritual. Não é pessimismo, é apenas realismo, até porque ser otimista é uma coisa e ser boboca, trouxa, otário, é outra. Que caminhos os eleitores, no final deste ano, escolherão para o Brasil seguir? PT de novo? PSDB outra vez? Algum aventureiro populista semi-infantil? Ou um raivoso radical "esquerdopata", seja aquela senadora de longos cabelos presos e camiseta barata ou um "histórico" de barba, mas ambos com aquela indefectível baba bovina e elástica que Nelson Rodrigues tão bem descrevia?

Minha convicção, neste início de 2006, dado o estoque de conhecimento disponível, ou memória, é que não há como se formular, em termos nacionais, algo que possa soar como um "feliz ano novo". Infelizmente. É claro que tirar o PT - esse bando de arrogantes incompetentes e ímprobos - do poder é uma boa aspiração, mas aí surge a questão que vem martelando a consciência de todos os brasileiros de bem: quem colocar no lugar desses prestidigitadores?

Serra? É e sempre foi de esquerda e bem mais intervencionista, em se tratando da economia, do que Palocci. Se não Serra, mas qualquer outro "tucano", não há como deixarmos de reconhecer que, embora sejam menos incompetentes do que os petistas, "tucanos" são apenas petistas mais educados e sem barbas e camisetas, como os oito anos de Fernando Henrique sobejamente demonstraram...

Garotinho ou algum outro do PMDB? Recuso-me a tecer qualquer comentário a respeito, até em respeito ao leitor. Basta lembrarmos que Sarney governou com o PMDB.

César Maia ou algum do PFL? Embora haja um ou outro nome interessante no partido - excluindo-se, evidentemente, o do prefeito carioca -, trata-se de lideranças jovens, locais e, portanto, sem visibilidade nacional.

A senadora Heloísa Helena? Francamente, o tempo do ferro de passar a carvão já se foi há muito...

Aonde chegaremos, então? A resposta é direta: à mesmice de sempre, sob aquele mesmo sol descrito no Eclesiastes, debaixo do qual tudo permanecia imutável, ano após ano.

A raiz da crise é moral e enquanto isto não for entendido - e praticado! -, enquanto a desinformação esquerdista continuar tentando achincalhar os princípios retos de moral e ética que tornam possível a vida coesa em sociedade e que deveriam servir de base para o sistema legal, enquanto houver juízes que exaram sentenças com base no "direito relativo", uma aberração para justificar decisões políticas, enquanto não formos capazes de fazer uma reforma política de fôlego, seremos forçados a lembrar o gênio de Dante Alighieri, na Divina Comédia (Inferno, VI, 61):

"Li cittadin de la città partita;
s´alcun v´è giusto ; e dimmi la cagione
per che l`ha tanta discordia assalita.
"

("Os cidadãos da cidade partida;
será algum justo; e diz-me a razão
dize-a para mim, porque tanta discórdia a assaltou.
")

Se há justos no Brasil, movidos por bons propósitos morais, definitivamente, precisamos encontrá-los!

No plano pessoal, desejo um feliz Ano Novo para todos os meus alunos, leitores e as suas famílias! No plano nacional, vou rezar muito pelo nosso país.


Nota do Editor: Ubiratan Iorio é doutor em Economia pela EPGE/FGV. É Diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ e Vice-Presidente do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (CIEEP), Professor Adjunto do Departamento de Análise Econômica da FCE/UERJ, do Mestrado do IBMEC, Fundação Getulio Vargas e da PUC/RJ. É escritor com dezenas de artigos publicados em jornais e revistas.

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