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Opinião
02/01/2006 - 14h01
América Latina: o continente perdido
Maria Lucia Victor Barbosa - Parlata
 

O ano de 2005 passará à história como o ano da vergonha nacional, em que pese o tom triunfante do presidente da República. Já vai cansando sua verborragia populista, o recurso de por a culpa de seus próprios erros no governo passado como se governasse pelo retrovisor, a deturpação de dados, a propaganda enganosa que recrudesce na obsessiva campanha da reeleição.

Os sentimentos de vergonha e de frustração são, inclusive, pertinentes aos petistas românticos que acreditavam em uma espécie de ideologia mística; aos simpatizantes do “pobre operário de esquerda” que embarcaram na teoria da vitimização; aos tradicionais grupos de interesse que sempre apoiaram o PT ou mesmo ajudaram a gerá-lo, como parte da Igreja católica; aos movimentos sociais que esperavam as prometidas mudanças radicais e se vêem diante de caridades oficiais, como o Programa Bolsa Família que sucedeu ao fracassado Fome Zero.

Satisfeitos apenas os companheiros beneficiados pelo loteamento estatal, os banqueiros com seus lucros astronômicos, os investidores de curto prazo. E, naturalmente, existem os fanáticos, sempre dispostos a bater bandeira nas ruas e a pagar os dízimos que sustentam a doce e rica vida dos dirigentes. Como beatos cegos pela fé eles repetem em forma de mantra o que lhe foi inculcado: a culpa de tudo vem desde Cabral, provém dos Estados Unidos, origina-se do neoliberalismo, decorre da herança maldita. Nós, os puros, nunca erramos, corrompemos, mentimos. Nossos crimes não passam de faltas leves. Cremos em nosso líder todo-poderoso, criador da igualdade social, na comunhão dos companheiros, na remissão pelo socialismo, na ressurreição do petismo, amém. E essa cantilena irracional é destilada não tanto pelo homem comum, desinformado ou mesmo analfabeto, mas por expoentes de nossa intelectualidade universitária que, não tendo como defender o indefensável se calam de forma vergonhosa, sendo que deveriam ser os primeiros a denunciar os fracassos desse governo, sua corrupção deslavada, suas notórias mentiras.

O senhor presidente afirmou que caixa dois não tem importância porque todo mundo pratica esse crime. Ele nega o “mensalão” mesmo diante da avalanche de pistas, testemunhas e provas acumuladas. Esquiva-se de suas responsabilidades dizendo que nada sabia sobre as maracutaias cometidas por seus companheiros mais antigos e íntimos. Vangloria-se da macroeconomia que de forma ortodoxa foi copiada do governo anterior. A macroeconomia seria o grande trunfo eleitoreiro num período bafejado pela calmaria internacional. Mas que êxito é esse, se em 2005 ficamos em termos de crescimento na rabeira dos países emergentes, incluindo os da América Latina?

Com todo nosso potencial, nosso tamanho, nossas riquezas naturais, o esforço da iniciativa particular que fez deslanchar as exportações, só conseguimos empatar com o crescimento de 2,5% de El Salvador e ficar acima do miserável Haiti que registrou aumento de 1,5% no seu Produto Interno Bruto (PIB).

O governo do PT, que a todo custo tenta se manter no poder, deixará atrás de si um rastro de destruição econômica, social e moral, que talvez só possa ser resgatada, se o for, por gerações. Note-se, por exemplo, como sobre a égide do lulismo-petismo o Legislativo se corrompeu ainda mais e o Judiciário, através de sua instância mais alta, o Supremo Tribunal Federal (STF), se politizou e se pôs a serviço do Executivo e não da execução da Lei. Em suma, o governo do PT está fazendo do Brasil um país ainda menos civilizado e não passa de conversa mole essa de que nossas instituições estão sólidas, pois não contamos com partidos oposicionistas para valer, com legisladores sérios nem com aplicação justa das leis.

Enquanto navegamos nas águas turvas do atraso e da corrupção vemos a América Latina mergulhar numa onda de governos populistas, ditos de esquerda, que juntamente com o ditador cubano Fidel Castro são exemplos para nosso governo. Este, em vez da propalada liderança, serve apenas para suprir os países vizinhos com recursos e obras por nós custeadas.

O continente retrocede sob a égide de Hugo Chávez, Evo Morales e outros mais, e como tão bem afirmou o escritor argentino, Marcos Aguinis, em entrevista ao Estado de S. Paulo (25/12/2005): “As receitas populistas sempre terminaram mal. Não conseguem evitar a corrupção, o autoritarismo, a cultura da esmola”.

Como os demais populistas latino-americanos, Luiz Inácio elegeu um inimigo, os Estados Unidos; brada contra um liberalismo ou neoliberalismo inexistente; optou claramente em política externa pelo atraso. Caso consiga ser reeleito, utilizando para tanto a propaganda enganosa e a máquina estatal, estaremos condenados a perpetuar o característico fracasso desse continente perdido chamado América Latina. A escolha é nossa.


Nota do Editor: Maria Lucia Victor Barbosa é graduada em Sociologia e Política e Administração Pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especialista em Ciência Política pela UnB. É professora da Universidade Estadual de Londrina/PR. Articulista de vários jornais e sites brasileiros. É membro da Academia de Ciências, Artes e Letras de Londrina e premiada na área acadêmica com trabalhos como "Breve Ensaio sobre o Poder" e "A Favor de Nicolau Maquiavel Florentino". Criadora do Departamento de Desenvolvimento Social em sua passagem pela Companhia de Habitação de Londrina. É autora de obras como "O Voto da Pobreza e a Pobreza do Voto: A Ética da Malandragem" e "América Latina: Em Busca do Paraíso Perdido".

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