Na década que antecedeu o governo Lula, o PIB brasileiro cresceu 27%. Longe de ser animador, esse resultado nos situou abaixo da média mundial, gerou insatisfações sociais, principalmente porque a população brasileira no período cresceu quase 15%. Nos três primeiros anos do governo Lula, nosso PIB aumentou 7,5% o que se contém nos exatos e estreitos limites da década que o antecedeu, numa média de 2,5% ao ano, ainda correndo atrás da média mundial e bem aquém da maior parte de nossos vizinhos ou competidores. Portanto, estamos distantes de uma situação capaz de produzir os arroubos que caracterizam as manifestações de nosso presidente e seus devotos quando se referem aos sucessos da economia brasileira. O tal crescimento se evidencia ainda mais medíocre quando sabemos que ocorre num cenário internacional bastante favorável. Admitamos por outro lado, apenas para raciocinar, que a situação seja como Lula descreve. A quais fatores internos poderíamos atribuir um bom desempenho da economia? Não hesito em afirmar que são cinco os elementos positivos que a sustentam: 1º) a abertura do Brasil para o mercado mundial, iniciada no governo Collor, quando abandonamos os protecionismos que retiravam nossa competitividade; 2º) a estabilidade da moeda; 3º) as privatizações, que, entre trancos e barrancos, atraíram a iniciativa privada para investimentos em infra-estrutura; 4º) a atenção ao agronegócio e programas como o Moderfrota, que alavancaram a produção primária, transformando-a na grande fazedora de excedentes comerciais do país; e 5º) o rigoroso cumprimento dos compromissos com os credores internacionais, que afastou do horizonte o risco do calote. Não deixa de ser notável o fato de que todos esses elementos foram ferozmente combatidos por Lula e seu partido desde 1989: 1º) da abertura comercial dizia-se que era coisa da famigerada globalização neoliberal; 2º) do Real falava-se que era uma mentira e um estelionato eleitoral; 3º) das privatizações, condenava-se estarmos "vendendo tudo", como se postes e torres de transmissão, uma vez vendidos, fossem levados embora para outros mundos; 4º) do agronegócio, denunciava-se que estávamos plantando o que "o povo não comia" e que o certo seria desapropriar tudo para fazer a reforma agrária do MST; e 5º) dos compromissos com credores externos, mediante plebiscito e irados discursos, cobrava-se a moratória. Mas não há moratória para a memória. Nota do Editor: Percival Puggina é arquiteto e presidente da Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública. Conferencista muito solicitado, profere dezenas de palestras por ano em todo o país sobre temas sociais, políticos e religiosos. Escreve semanalmente artigos de opinião para mais de uma centena de jornais do Rio Grande do Sul.
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