O desastre do governo Lula é total, até mesmo no plano econômico, em torno do qual o Planalto deita sua repelente baba de quiabo. No concreto, a julgar pelas projeções do Banco Central, o País, em 2005, teve mais inflação e menos crescimento do que o previsto, a partir do quadro otimista traçado em 2004 pela mesma equipe econômica do atual governo - que, de resto, como todas as equipes econômicas dos governos intervencionistas, erram (ou mentem) de forma sistemática. Vamos aos números, como recomenda o bom figurino. Por exemplo: no exame do quadro inflacionário, medido pelo IPCA, índice referência para o acompanhamento do sistema de metas governamentais, registra-se o percentual de 5,7%, acima dos 5,3% projetados pelo BC no final do ano passado. Na aferição do crescimento da economia, estimado oficialmente em 4%, o índice atingido foi bem menos expressivo, não ultrapassando a casa dos pífios 2,5%, apesar dos bons ventos da economia mundial que, em 2005, registrou taxa de crescimento médio na ordem 5,7 por cento. No que tange a renda per capta que, em 2002, era de R$ 424,50 (caiu em 2003 para R$ 399,80), em 2004 ela ficou reduzida à R$ 413,25 - o que significa dizer que o brasileiro trabalhou mais e ganhou menos do que em 2002, antes do "espetáculo do crescimento" proposto pelo governo Lula. Nesta ordem de compreensão, por sua vez, o que se tem hoje como redução das desigualdades sociais e de renda, de fato, bem examinado, não passou do empobrecimento dos ricos e da classe média, especialmente desta última, em função da hipertrofia do Estado (parasitário). A proporção de pessoas pobres vegetando no País, por sua vez, que era de 35,8% em 2002, em 2004, foi de 34,04% - uma queda inexpressiva, ou talvez mentirosa, mas em todo caso ridícula se levado em conta que o governo se apropriou de quase 40% do PIB, mais de 700 bilhões de reais, para pulverizá-los no mais corrupto aparelhamento do Estado, fazendo crescer irracionalmente o tamanho da máquina e dos gastos públicos - embora, para fins eleitorais e sob a égide de farta propaganda, distribuísse o dinheiro do contribuinte com programas sociais fraudulentos e viciosos (o que não se pode admitir como inclusão das camadas desfavorecidas no mercado de trabalho). A própria Cepal - Comissão Econômica para América Latina a Caribe -, órgão da desmoralizada ONU e arauto do "estruturalismo" estatizante, em relatório anual recém-publicado, considera constrangedora a posição do Brasil na fila do crescimento econômico regional: o "Gigante Adormecido" amarga a penúltima colocação entre 34 países, com um crescimento assinalado na ordem de 2,5%, só conseguindo superar o do Haiti (1,5%), a nação mais pobre do continente. Os intelectuais "politicamente corretos", em geral resguardados em vantajosos empregos públicos e nas cátedras das universidades predominantemente esquerdistas, dizem que a culpa do atraso do País cabe ao modelo neoliberal adotado pela equipe econômica do governo, nomeadamente as figuras de Antonio Palocci, o trotskista, e Henrique Meirelles, o representante dos "bancos estrangeiros". Bem, se se considera como modelo neoliberal, a irracional tributação do capital produtivo pelo fisco do Estado predador, para fins da manutenção de governos distributivistas no centro do poder, com toda a carga de programas sociais que, prometendo o combate à pobreza com a doação mensal de R$ 50 a grupos de miseráveis, só faz aumentar o quadro geral da miséria - bem, se esta pataocada toda é neoliberal, então, meus caros, fogo intenso sobre o costado do neoliberalismo petista ou em cima do coração de lama de quem seja o responsável pela falácia. Pois, no final das contas, o dito modelo não tem nada a ver com o verdadeiro liberalismo clássico que gerou, amparado nos supremos valores da civilização ocidental e cristã, o mais formidável desenvolvimento econômico, político e social até hoje já auferido pela humanidade sob a face da terra - se quiserem, o modelo ainda prevalecente nos Estados Unidos da América, com toda a carga de imperfeição que o sistema acarreta. No caso brasileiro, o desastre se legitima a partir da fraude ideológica que institucionalizou na cabeça do vulgo a legenda, como solução para a crise em que vivemos, da supremacia da esperança sobre o risco - aqui, bem entendido, o capitalismo entendido como risco e o socialismo como a esperança. Resultado: como somos um país constituído por larga maioria de pobres e ignorantes, os políticos "utópicos" se esmeram na arte de fabricar sonhos impossíveis em cima de uma ilusória "vontade política", no frigir dos ovos, uma aberração que, como é previsível, rompendo os limites da ciência política, transfere o cisma para o campo da ética na política. E neste enxudioso terreno, por assim dizer, as nossas perspectivas são mais que sombrias. Ao contrário do Brasil pré-64 que, bem ou mal, estava dividido entre esquerda e direita, com toda a gama de contradições que tal fato pudesse à época encampar, temos hoje uma nação que respira o ar infecto do pensamento único, predominantemente esquerdista, em que povo, empresários, partidos em geral e o governo em particular só pensam em vender o peixe ressentido do Estado regulado, com seus impostos em cascata, subsídios, incentivos fiscais, dinheiro a fundo perdido, regulamentações coercitivas, empréstimos fraudulentos, em suma, anomalias que degradam a ética do trabalho e do mérito para beneficiar a malandragem, a falácia das formulas milagrosas e a divisão da tribo entre quem vive, ou não, apadrinhado pelo governo - no primeiro caso, uma minoria privilegiada parasitando à sombra da (vá lá, o regalo marxista) "mais valia" de quem se esfalfa e produz. Repito neste final/começo de ano o que escrevi em 2003 e 2004: a perspectiva do brasileiro para o próximo ano é, no mínimo, sombria. Sendo inviável o projeto dos partidos socialistas no centro de poder, sua perpetuação só leva ao mais insensato dirigismo - o que é, sem disfarce, a cultivada forma nacional de autodestruição. Deus se apiede de nós. Nota do Editor: Ipojuca Pontes é cineasta, jornalista, escritor e ex-Secretário Nacional da Cultura.
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