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Opinião
05/01/2006 - 14h05
São duras estas palavras
Percival Puggina - MSM
 

Cabe aqui a manifestação escandalizada dos discípulos a Jesus: "São duras estas palavras. Quem as pode ouvir?" No entanto, o que direi a seguir expressa triste realidade que só pode ser alterada se admitirmos como verdadeiro o que afirmo.

Há alguns anos, viajando por Portugal, esqueci a câmara fotográfica digital que portava comigo sobre uma das muitas mesas de movimentada cafeteria da cidade de Tomar. Quase uma hora depois, percebi o fato. Voltei correndo para onde havia deixado o equipamento que, à época, era ainda mais caro e cobiçado do que hoje. Encontrado e entregue no balcão, prontamente me foi devolvido pelo atendente. Semanas depois, em Fortaleza, a mesma máquina me foi arrancada das mãos por um ladrão que saiu em disparada na sua bicicleta.

No Brasil rouba-se tudo, de todos, em toda parte. Aqui em Porto Alegre, uma menina resolveu dançar descalça durante uma festa chique. Roubaram-lhe os sapatos. Roubam-se linhas de transmissão, caneta dos colegas, placas de bronze das praças, roupas dos varais, telefones celulares, senhas de caixas eletrônicos, pertences de moradias miseráveis, cargas de caminhão, automóveis, chinelos de dedo, chupetas de crianças e moedas de cegos. Filhos roubam dos pais. Senhoras estacionam automóveis junto às praças e roubam mudas para seus jardins. Um "magnífico" reitor roubou da própria universidade. Sim, são duras estas palavras, mas, com exceções, nos tornamos um país de ladrões. Se não há quem não tenha sido roubado várias vezes, podemos falar de centenas de milhões de furtos, roubos e assaltos. A honestidade se tornou tão incomum que o gesto de devolver o que é achado virou coisa heróica, dá notícia na imprensa e rende foto com o presidente da República (que se não é descuidista, certamente é descuidado).

Não me venham com coitadismos sociológicos para explicar desonestidade epidêmica de tais proporções, nem me falem em crime organizado porque este é o único em relação ao qual as instituições podem agir. Ele é o que menos incomoda a sociedade e, em maior ou menor grau, existe no mundo inteiro. Estou falando aqui do crime desorganizado, dos milhões de ladrões oportunistas, de qualquer nível social, que infestam o país de modo implacável e que, para serem contidos, exigiriam um par de seguranças parrudos e armados, ao lado de cada cidadão de bem, 24 horas por dia.

E se o leitor destas linhas julga que estou exagerando, experimente deixar algo valioso sobre a mesa, no mais grã-fino dos ambientes, para ver o que acontece. Sim, são duras estas palavras. Mas é melhor que as ouçamos. Na pior das hipóteses, valem como advertência para nos precavermos: com exceções, nos tornamos um país de ladrões.


Nota do Editor: Percival Puggina é arquiteto, político, escritor e presidente da Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública.

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