13/09/2025  20h37
· Guia 2025     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Opinião
07/01/2006 - 20h03
Gravado na alma
Luciano Pires
 

Cerca de dez anos atrás, junto com um colega de empresa eu visitava um centro de distribuição na Inglaterra. No meio da visita, chega uma chamada telefônica para meu colega. Como ele estava envolvido numa reunião, me dispus a atender em outra sala. Do outro lado da linha, uma expressão de alívio: "Luciano, que bom que foi você que atendeu!" Era a secretária de meu colega. "Você precisa avisar o fulano que a mãe dele faleceu. Eu não sabia como ia dizer, a esposa não quer contar, que bom que você atendeu".

Acho que esse foi o maior mico da minha vida... Olhem a situação: num país estrangeiro, em meio a uma visita de negócios, eu tinha que comunicar ao meu colega que ele perdera a mãe! E de surpresa, pois ela não estava doente. Desliguei o telefone, atordoado. A cabeça a mil, buscando uma estratégia.

Decidi que daria a notícia quando retornássemos ao hotel.

Voltei para a reunião, dei uma desculpa sobre o telefonema e tratei de ir acelerando a visita. O retorno para o hotel foi uma tortura. Primeiro trem, depois metrô. Meu colega todo animado, querendo fazer umas compras...

Eu dizendo que queria voltar pro hotel e ele não entendendo nada...

Como é que eu daria a notícia? O que dizer? Que situação!!!

No hotel, chamei-o ao meu quarto, pedi que sentasse, olhei em seus olhos e dei a notícia, de forma pausada e serena. Meu coração quase saiu pela boca.

Ele soltou uma expressão de tristeza e retirou-se para seu quarto. Nossa viagem acabou ali. Antecipamos a volta ao Brasil e eu tomei a decisão de nunca mais atender uma ligação telefônica de outra pessoa...

Você já passou por uma situação parecida?

De ser o portador de uma péssima notícia?

Nessas horas, queremos estar em qualquer lugar do planeta, menos ali. Sabemos que a pessoa diante de nós estará completamente fragilizada, precisando de um tipo de apoio que, ao menos no ambiente profissional, não somos treinados a dar.

Somos treinados para ser técnicos perfeitos em competências profissionais, habilidades que de nada servem quando lidamos com a alma e o espírito.

Aquela experiência mostrou como eu precisava olhar mais para as coisas do coração. Mostrou que competência profissional é só um pedacinho, pequenino e inútil diante da complexidade de nossas vidas.

Mais de dez anos se passaram. Já esqueci de todas as questões profissionais que tratei naquela viagem. Das pessoas que conheci. Das visitas que fiz.

Mas jamais vou me esquecer do olhar de meu colega.

O que é do profissional, passou.

Mas o que é da alma, ficou.


Nota do Editor: Luciano Pires é jornalista, escritor, conferencista e cartunista.

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "OPINIÃO"Índice das publicações sobre "OPINIÃO"
31/12/2022 - 07h25 Pacificação nacional, o objetivo maior
30/12/2022 - 05h39 A destruição das nações
29/12/2022 - 06h35 A salvação pela mão grande do Estado?
28/12/2022 - 06h41 A guinada na privatização do Porto de Santos
27/12/2022 - 07h38 Tecnologia e o sequestro do livre arbítrio humano
26/12/2022 - 07h46 Tudo passa, mas a Nação continua, sempre...
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2025, UbaWeb. Direitos Reservados.