Nos primeiros dias nos bancos escolares, já aprendemos que não se pode iludir a exatidão cartesiana da Matemática: dois mais dois são quatro e ponto final! No entanto, de tempos em tempos, aparecem políticos que, em sua ânsia voluptuosa por popularidade e, conseqüentemente, por votos, ousam desafiar as leis inexoráveis da ciência de Pitágoras... JK, esse que o seriado global, a serviço do governo, vem enaltecendo - já que o atual presidente vem se comparando, imodestamente, ao fundador de Brasília -, tinha qualidades, que o tornavam bem superior ao atual presidente, mas, ao eleger como lema de seu governo aquela famosa frase "cinqüenta anos em cinco", foi um deles. Durante o seu governo, houve um razoável crescimento, porém artificial, porque baseado em montanhas de gastos públicos para a construção da nova capital. O resultado foi que crescemos alguns anos a um ritmo maior, mas estamos pagando o preço até hoje, ao bancarmos a semana de três dias de nossos dignos parlamentares, as verbas que recebem para se locomoverem até as suas bases, os resquícios da inflação que ele legou e o pesadelo de Brasília, uma cidade construída para formigas, abelhas, cupins e outros animais gregários, mas não para seres humanos, o que a tornou, ao longo dos anos, algo como uma ilha da fantasia. JK, sem dúvida, acelerou o carro, que andava, digamos, a 80 km/h, para algo como 100 km/h, para deixá-lo, depois de seu mandato, a 50 km/h... Bem depois, foi o tucanato de oito anos, cujo lema bem poderia ter sido "quatro anos em oito", já que o presidente Fernando Henrique não realizou as reformas liberais no Estado que prometera em duas campanhas, sendo que as que logrou fazer foram de uma timidez de aluno da primeira série do ensino básico, no primeiro dia de aula. Agora, é o presidente Lula - cujo governo, sem qualquer sombra de dúvida, tem sido um dos mais medíocres, desde que Cabral aqui aportou -, a anunciar, vergado pelo peso da estrondosa queda de popularidade, que pretende fazer no último ano o que deixou de fazer nos três primeiros, algo como "quatro anos em um". Mesmo que os planos eleitoreiros do PT dêem os resultados esperados, levando o PIB de 2006 a aumentar a uma taxa decente, o correto, ao cabo do atual mandato, seria afirmar que Lula teria feito o Brasil avançar, no máximo, "um ano em quatro". Mas, se as pretensões do governo, tocadas pela desenfreada gastança pública que vem sendo anunciada, não forem bem sucedidas - hipótese que não pode ser descartada -, neste caso poderemos afirmar, no início de 2007, que o PT fez o Brasil avançar "zero ano em quatro", ou seja, que não conseguiu fazer o carro sequer sair da inércia inicial... A palavra de ordem em Brasília para este ano, na tentativa desesperada de encobrir o imenso tisno na outrora imaculada imagem do PT, provocado pelas denúncias - algumas, já comprovadas - de corrupção, bem como para aparentar que o governo, enfim, libertou-se da paralisia administrativa, parece ser: "abaixo a Matemática"! É sabido que muitos governos, em todo o mundo, deixam para gastar mais no último ano dos mandatos, seguindo os ditames de certos maus usos e costumes da política. Porém, esse tiro pode lhes sair pela culatra, na medida em que os agentes econômicos, que não são idiotas de papel passado - embora suas mães tenham também nascido "analfabetas" -, perceberem que se trata de uma operação voltada exclusivamente para captar votos, sem qualquer relação com o crescimento sustentado e sem qualquer respeito para com a Matemática e para com a Aritmética elementar do déficit público, essa antipática ciência, odiada pelos políticos, que determina a impossibilidade de mágicas e demonstra que só há quatro fontes para financiar o derrame de dinheirama: mais impostos, mais endividamento interno, mais endividamento externo e mais emissão de moeda. Todas, sem exceção, exigirão dos eleitores, em um futuro bem próximo - que pode ser imediato, se as expectativas apontarem nesse sentido - mais sacrifícios. O povo não pode tolerar mais sacrifícios provocados pela incompetência dos políticos! Precisamos sabatinar todos os candidatos que se apresentarem! Nota do Editor: Ubiratan Iorio é Doutor em Economia pela EPGE/FGV. É Diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ e Vice-Presidente do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (CIEEP), Professor Adjunto do Departamento de Análise Econômica da FCE/UERJ, do Mestrado do IBMEC, Fundação Getulio Vargas e da PUC/RJ. É escritor com dezenas de artigos publicados em jornais e revistas.
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