Mal começou o ano e a campanha eleitoral, que já vinha sendo feita disfarçadamente desde 2003, ganhou abertamente as ruas. No caso do PT, está a pleno vapor. O Presidente da República se reserva o direito de não dizer se é ou não candidato à reeleição e essa postura lhe confere uma vantagem inicial, pois lhe permite viajar à vontade pelo país afora, com despesas pagas pelo erário, fazendo comícios em toda e qualquer inauguração que apareça. Há pressa, pois a contagem regressiva já começou e é preciso apresentar uma infinidade de justificativas, prestar inúmeros esclarecimentos e formular incontáveis novas promessas a fim de reconquistar o eleitorado que, a essa altura, está mais maduro, mais esperto e mais atento aos discursos. São os apagões que continuam, cada vez com maior freqüência; o espetáculo do crescimento, que ninguém viu; os dez milhões de empregos, que não apareceram; o corte na própria carne, que não ocorreu etc. etc. etc. Tudo isso com certeza, será cuidadosamente considerado pelo eleitor. O que mais, todavia, pode ser prometido? Novas indenizações aos perseguidos políticos? Sem dúvida esse é um ponto em que o governo do PT obteve formidável sucesso. Como os números, entretanto, não são tornados públicos, é difícil dizer se o resultado eleitoral é positivo ou negativo para o partido, pois é sabido que grande parte da opinião pública condena tanta generosidade com dinheiro do contribuinte. Fala-se em crescimento do PIB da ordem de 2,5%, no ano que findou. Em 2006 será de 4,0% ou 5,0%, dependendo de quem está falando. O eleitor, porém, já está acostumado. Todo ano são feitas estimativas que, em poucos meses, revelam-se excessivamente otimistas. Por outro lado, qualquer pessoa que preste atenção no assunto sabe que taxas inferiores a 6,0% ao ano fatalmente significarão atraso ou, pelo menos, estagnação em relação ao resto do mundo. E as reformas? A Reforma Política não chegou a despertar o interesse do Congresso e foi empurrada mais para a frente, apesar dos reiterados clamores do povo. A convocação extraordinária está aí para comprovar o divórcio gritante entre a vontade popular e a dos parlamentares. A Reforma Trabalhista é necessária e urgente, a fim de reduzir o trabalho informal, o que fará aumentar enormemente a arrecadação, mas quem passar a pagar o INSS vai ficar com raiva do governo. Não parece boa idéia em época de eleição. O governo federal finalmente se decidiu a dar atenção às estradas, de cujo mau estado parecia ainda não ter conhecimento. Para apressar as obras, utilizou-se de decreto de declaração de calamidade pública a fim de evitar licitações, procedimento perfeitamente legal, muito embora todos saibam que a urgência decorre principalmente do irresponsável abandono a que as rodovias foram relegadas nos últimos tempos. Apesar de toda a pressa, todavia, é difícil apresentar um resultado concreto, sem tumultos nem novos escândalos, em tempo hábil para influir no resultado das urnas. A esse respeito, é oportuno mencionar a estranha atuação da Ministra Dilma Rousseff, eclipsando o Ministro dos Transportes. Enquanto isso, o Presidente continua na sua Ilha da Fantasia, repete seus mantras preferidos, insiste em dizer que seu governo não pode errar e declara que continuará a não saber o que se passa no mundo real, em que pese a formidável rede de informações de que dispõe, incluindo a ABIN e as dezenas de milhares de cargos de confiança em mãos de seu partido, ocupados por "comissários" da nova nomenklatura criada na atual administração, com mais de trinta ministérios. Em contrapartida, o Ministro da Justiça diz que vai monitorar as campanhas para identificar o pessoal que está usando caixa 2. Ótimo! É bom prestar atenção também numa possível vinda de dólares do exterior. Resta ver o que proporão os outros candidatos que, por sinal, ainda não se apresentaram com a mesma espetaculosidade. Pesquisas de opinião indicam que um dos grandes oponentes de Lula será o atual prefeito de São Paulo, José Serra, mas outro candidato com fortíssimas possibilidades será, certamente, o Sr. Geraldo Alckmin, que ainda não mostrou seu poder de fogo. Quem realmente quiser ganhar a próxima eleição vai ter de prestar mais atenção à classe média, essa gente que, de um momento para outro, foi excluída do cenário político do país mas que agora possui uma nova e poderosíssima arma: a Internet, essa maravilha moderna, que permite colocar opiniões instantaneamente em qualquer local do mundo e que tornou-se a nova "voz de quem não tem voz", substituindo o antigo tablóide A Voz Operária. Sem a Internet, provavelmente o resultado do maquiavélico referendo sobre o "desarmamento" teria sido outro e hoje a população ordeira estaria completamente indefesa. Sem dúvida, a Internet será amplamente utilizada por professores, estudantes, funcionários públicos, bancários, militares, aposentados e profissionais liberais como ferramenta para formar opinião. É verdade que 2006 será ano de eleições e de Copa do Mundo mas, antes de mais nada, será o ano do eleitor. Nota do Editor: Mário Ivan Araújo Bezerra é Oficial-General da Reserva do Exército.
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