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Crônicas
18/01/2006 - 20h43
A arte do instante
Chico Guil - Agência Carta Maior
 

Para Kant, somente as mãos humanas eram capazes de produzir arte. Como se o laranja-vermelho-lilás das nuvens crepusculares não fizesse arte no espelho invertido de um par de olhos em êxtase!

A beleza-fora-do-homem pertence ao transitório, cuidadosos desenhos desferidos no céu por um cauteloso pintor invisível, e a vontade das asas negras frenéticas roçando o fundo nas várias tonalidades entre o azul e o violeta... Se Kant fosse um desses mestres da pintura, como traria pelo pincel o frescor da tarde, os murmúrios das crianças, o afinado ruído dos motores finalmente silenciados, e mesmo a ausência, tão grande e aparente quanto todas as coisas presentes...

A beleza do instante, único exemplo de maravilha neste encerramento de um dia tedioso de imagens e palavras viciadas, de vaticínios inconsistentes e medrosas esperanças dos indivíduos de pés no chão.

Meus olhos recebem o prêmio da espera ao todo, à comunhão possível entre a luz e a inteligência que a identifica. Não quero reproduzir o inimitável, nem restringir a liberdade das vontades de suspirantes entardeceres... antes que surgisse um rasgo de consciência sobre as formas que povoam o mundo, as vontades das luzes, dos sons, dos perfumes, já traduziam nas lágrimas das manhãs orvalhadas suas criações infinitas.

Não retenho para além da escuridão inevitável sequer as lembranças dos incontáveis ocasos, que desesperado quis pintar, guardar ao além da hora marcada para sua contemplação. No absoluto das coisas, somente os tolos podem aspirar à arte como registro, ou ao progresso técnico como perfeição.

Os cordames estão todos esticados, as bailarinas revoam na arena incandescente e o anúncio da plenitude reboa uns poucos segundos após um luminoso e silente corisco.

A beleza tornou-se a marca inapelável de um mundo em estado de perfeição. Somente quem não se conteve aqui, suspirando a brisa mergulhando nos murmúrios dos seres entardecentes, acolhido no espaço singular como cada uma dessas miríades de criaturas... as velas esticadas para o futuro, somente os que perderam a nau sobre o oceano da história podem condenar a uma estada provisória num mundo imperfeito aqueles que nos antecederam.

Os estados finais e intermediários na elaboração de uma consciência ocorrem ao simultâneo estalar das massas, agregadas pelas vontades indizíveis, em redor das mentes brilhantes, das pétalas dos girassóis e dos assassinos mofados nas masmorras. A perfeição almejada pelo artista, é preciso admitir, veio muito antes da paleta e do pincel. À irrevogável beleza natural não competirá responder aos conceitos que inventamos, nossa desesperada necessidade de tradução. As performances humanas podem alcançar vários estágios de beleza e superação, mas nenhum artifício alcançará a imortalidade da eterna arte do instante.

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