Há dois casos polares de organização política, social e econômica, a saber, as sociedades totalitárias e as sociedades de homens livres, as primeiras caracterizando-se pela supressão das três liberdades, a política, a econômica e a de livre expressão, e as segundas - também conhecidas como democracias liberais -, pelo respeito às liberdades mencionadas. Uma questão importante e que remonta à segunda metade do século XIX é se não seria viável um sistema institucional misto, algo entre o totalitarismo e o liberalismo, por exemplo, a combinação de liberdade política (democracia) com intervencionismo governamental na economia ou o seu oposto, ditadura política com liberdade econômica. Este carrossel chamado mundo, até os anos oitenta do século passado, mostrou uma combinação de falta de democracia política com intervencionismo econômico, com a primeira restringindo, naturalmente, a liberdade de expressão e de consciência. De lá para os dias atuais, aprendeu-se - com pouquíssimas e desonrosas exceções - a importância da democracia política que, se não é a panacéia em que muitos acreditavam, pelo menos é o sistema político menos pernicioso que os homens conseguiram conceber. Mas, em certas partes do planeta e, mais especificamente, na América Latina, com a exceção do Chile, a democratização política, que trouxe consigo a liberdade de expressão, não foi acompanhada pela retirada da mão boba, pesada e ladravaz do Estado sobre as nossas vidas, apesar de todas as palavras de ordem berradas pelas "esquerdas" contra o "modelo neoliberal" forjado no tal "Consenso de Washington". Ma che liberalismo econômico é esse, Dio mio, em que, apenas para citarmos o caso do Brasil, a disputa pela presidência da República nada mais é do que uma contenda para ver quem vai controlar 40% do nosso PIB? Ma che liberalismo, caspita, com mais de 70 tributos, com encargos trabalhistas e burocracia inacreditáveis, com um crescimento dos gastos com pessoal da União (diretos, indiretos, civis, militares, ativos, inativos, pensionistas e intergovernamentais) de R$ 35,8 bilhões em 1994 para R$ 100,1 bilhões ao cabo de 2005? Ma che liberalismo, Madonna mia, se até o mês de novembro de 2005, em comparação ao efetivo de dezembro de 2002, houve aumento de 111.106 servidores civis e de 60.563 servidores militares (recrutas), totalizando um acréscimo de 171.669 servidores da União, banquete "orçamentívoro" que fez os gastos com pessoal saltarem de R$ 75,0 bilhões em 2002 para perto de R$ 100,1 bilhões em 2005, representando um crescimento nominal de 33,47%? "Neoliberalismo" uma pinóia! Que diferença há, neste ponto, entre o governo tucano, que em oito anos, aumentou aqueles gastos de R$ 35,8 bilhões para R$ 75 bilhões (R$ 39,2 bilhões a mais), e o governo petista, que, em apenas três anos, os aumentou em cerca de R$ 21,1 bilhões, o que, se projetarmos para oito anos, daria um acréscimo aproximado de R$ 56,3 bilhões, significando que um "petelhato" de oito anos oneraria os contribuintes - que, afinal, são os que pagam pela orgia - 43,6% a mais do que o "tucanato" o fez? Escolher entre uma baranga e uma mocréia é difícil... É a história de sempre: gastos permanentes crescentes puxando a economia para um lado e o Copom, corretamente, para evitar o recrudescimento da inflação, puxando para o outro... No meio desse verdadeiro cabo-de-guerra, nosso presidente, aquele que nada viu ou ouviu e de nada sabe, a não ser que foi "apunhalado" pelas costas... Nos felizes tempos em que ainda não imperava a ditadura do "politicamente correto", nossos avós ensinavam que "homem com homem dava lobisomem" e que "mulher com mulher dava jacaré"... Pois "cruzar" democracia política com intervencionismo econômico é o mesmo que tentar casar um jacaré com uma cobra- d´água: não pode sair nada de bom! Precisamos de candidatos comprometidos com as reformas inadiáveis no Estado elefante. Viva o Estado 1.0! Nota do Editor: Ubiratan Iorio é doutor em Economia pela EPGE/FGV. É Diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ e Vice-Presidente do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (CIEEP), Professor Adjunto do Departamento de Análise Econômica da FCE/UERJ, do Mestrado do IBMEC, Fundação Getulio Vargas e da PUC/RJ. É escritor com dezenas de artigos publicados em jornais e revistas.
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