Tem umas vontades que a gente não pode passar. A vida é muito curta para isso. Tudo bem que tem umas vontades que não dependem exatamente da gente para se concretizarem. Por exemplo, tem gente que sonha em passear com a Ana Paula Arósio, numa Ferrari vermelha, pela praia de Copacabana. Pombas. É difícil. Pra começar, quantas pessoas você conhece que têm uma Ferrari vermelha? Nenhuma. As pessoas só têm Ferrari vermelha nos filmes. Pra falar a verdade, sinceramente, eu acho que nem existem Ferraris vermelhas. Até da existência da Paula Arósio eu desconfio um pouco. Elas devem ser uma espécie de efeito especial de Hollywood, ou coisa parecida. Quer dizer, se o seu sonho é passear numa Ferrari vermelha com a Ana Paula Arósio, eu até entendo a sua frustração. Mas tem uns caras que passam uma vontades bobas. Eles chegam pra gente, com aquela cara de coitados, e falam.

- Eu tô morrendo de vontade de comer o pudim de leite condensado da minha mãe...

Bem, essa é uma vontade que o cara não precisa passar, entende? Pombas, fazer um pudim de leite condensado é a coisa mais fácil do mundo. A receita, inclusive, vem escrita em quase todas as latinhas de leite condensado. É só bater no liquidificador o leite condensado com um tanto de leite normal, colocar em banho maria, e pronto. Se você quiser dar uma sofisticada, então, é só queimar um pouco de açúcar, depois jogar um pouco de água para fazer uma calda, e despejar por cima do pudim. Fica igualzinho àquele que sua mãe fazia, sem tirar nem pôr.

Eu mesmo, outro dia desses, tava com uma baita vontade de comer um manjar de ameixa. Sabe daqueles, branquinhos, com aquela calda por cima? Então, eu adoro aquele doce, mas toda vez que tem aquele doce numa festa, eu passo vontade. Tem sempre uns vinte caras para comer, e não dá nem uma colherada para cada um. Pois nesse fim de semana teve um churrasco lá em casa, e eu fiz dois daqueles doces. Não quis nem saber. Um eu dei para o povo, e foi aquele negócio de sempre, um pedacinho para cada um, as crianças primeiro, uma droga. Só que, daquela vez, depois que todo mundo foi embora, eu comi o outro manjar inteirinho. Sentei, coloquei a tigela no meu colo e mandei ver.

Ah, pelo amor de deus, passar vontade da Ana Paula Arósio, ainda vá lá. Mas eu não vou aqui, ficar passando uma vontade besta como a de comer um manjar de ameixa, puxa vida...