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Crônicas
27/01/2006 - 11h48
Bonfim - A força de um sonho
Helena Sut - Agência Carta Maior
 
Uma bela manifestação popular na qual alas devotas e profanas dividem pacificamente a rua.

A multidão em frente à Igreja de Nossa Senhora de Conceição da Praia aguarda a saída para a lavagem do Bonfim em Salvador. Uma festa religiosa que ocorre há duzentos e cinqüenta e dois anos quando os escravos eram obrigados a lavar o interior da igreja e aproveitavam a ocasião para prestar homenagem a Oxalá, pai dos orixás no candomblé. Descoberto o culto clandestino, os escravos foram proibidos de lavar o interior da igreja. Desde então, nos dias consagrados à lavagem, as portas da igreja permanecem fechadas e as baianas lavam as escadarias da Igreja do Senhor do Bonfim na Colina Sagrada com água perfumada após percorrerem uma distância de aproximadamente oito quilômetros numa procissão de quase um milhão de pessoas.

Os grupos reúnem-se na praça Cayru após a realização do culto ecumênico. Um oceano de pessoas que se estende até as margens da Baía de Todos os Santos. Todos querem agradecer ao Senhor do Bonfim/Oxalá e pedir por um ano de realizações. A festa religiosa reúne uma diversidade de grupos: o bloco afro Filhos de Gandhy, escolas de danças folclóricas, mestres de capoeira, católicos, mães de santo, agnósticos, evangélicos, turistas festivos, militantes do MST, e principalmente políticos locais com suas comitivas uniformizadas para futuras campanhas eleitorais.

Em alguns momentos a bela festa parece um palanque na qual desfilam homens públicos conhecidos em todo o Brasil de oposição e situação. Misturam-se com a multidão, beijos, abraços, promessas... Candidatos e caciques políticos aproveitam o corpo-a-corpo da longa caminhada para anunciarem suas participações nas corridas eleitorais e tecerem as possíveis alianças. Toda fé vale a pena principalmente quando testemunhada por uma multidão.

Dez horas da manhã. A saída da procissão é organizada e assegurada por um reforçado esquema policial. Na abertura do cortejo, estão as tradicionais baianas e os políticos influentes. Forte aroma de água de cheiro. Os demais grupos em alas são intercalados por grupos musicais, coreografias bem ensaiadas, carroças decoradas e blocos de turistas com camisetas dos respectivos hotéis. Após a ala de mulheres fantasiadas de baianas do SESC, vem o grupo do MST com camisas, bonés e bandeiras. No meio dos trabalhadores rurais, alguns turistas uniformizados aderem ao bloco, assumem performances distanciadas do objetivo principal do movimento social ou da festa religiosa. Dançam e bebem na primeira grande festa que antecede o carnaval.

Uma bela manifestação popular na qual alas devotas e profanas dividem pacificamente a rua e as diferenças ficam marcadas nas presenças e ausências que desfilam pela cidade baixa de Salvador até a Colina Sagrada. Uma vivência inesquecível formada pela multidão num belo cartão-postal, emoldurado pelo Mercado Modelo, Elevador Lacerda, Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia e Baía de Todos os Santos.

A falta de um personagem, que ganhou notoriedade no Dia de Reis ao celebrar uma missa, caracterizado como orixá, índio e baiana com coreografias audaciosas, não é percebida pelo povo nas ruas de Salvador. Após o escândalo, o desaparecimento do padre e a nota do cardeal arcebispo de Salvador distribuída para a imprensa, o religioso é apenas uma nota nas folhas internas dos jornais. Afastado para descanso, afirma que está estudando propostas para posar para revistas e apresentar programas de televisão. Eis a sociedade do espetáculo...

Na Colina Sagrada, fiéis encerram a trajetória com a satisfação de homenagear Oxalá e manter viva a história dos ascendentes africanos, ressaltando a atual importância do candomblé e do sincretismo religioso na Bahia. Alguns foliões aproveitam a alegria das bandas de axé e embriagam-se alienados dos contextos históricos e culturais. Uma festa de contrastes, nítida imagem do povo brasileiro dividido entre a realidade e o sonho.

Epá Babá!

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