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SEÇÃO
Crônicas
28/01/2006 - 12h16
O espírito de aventura
Moacyr Scliar - Agência Carta Maior
 

As venturas a gente vive muitas, voluntárias ou involuntárias. As primeiras são melhores, mas todas deixam recordações. A aventura é a vida vivida intensamente, no limite, mesmo; e é, não raro, um instante de autodescoberta, de revelações, e que depois esqueceremos.

Lembro de duas aventuras, uma involuntária, a outra voluntária (relativamente, como vocês já verão). A primeira ocorreu quando eu trabalhava na Secretaria da Saúde. Recebemos a notícia de que um navio tinha chegado ao porto de Rio Grande e que, da tripulação de 500 homens, mais de 400 estavam com diarréia aguda. Tudo indicava que se tratasse de uma infecção alimentar, mas essas coisas a gente não pode avaliar de longe: o secretário, Germano Bonow, pediu que eu fosse com urgência a Rio Grande. Telefonou para o Departamento Aeroviário do Estado, mas nenhuma das pequenas aeronaves usadas nesses casos estava disponível. Havia, porém, um helicóptero. Eu iria de helicóptero? Claro que sim, mesmo porque não tinha alternativa. Em companhia de um técnico de laboratório, fomos até o aeroporto, e lá estava o helicóptero à nossa espera: basicamente, uma bolha de plástico transparente como uma hélice em cima. Coisa para entusiasmar um Santos Dumont, mas que, para nós, era a própria imagem da precariedade.

Embarcamos, e o piloto, homem experiente, perguntou se eu já tinha voado em helicóptero. Quando respondi que não, ele resolveu mostrar-me as múltiplas possibilidades do veículo aéreo: está vendo aquela árvore lá? Pois nós vamos roçar a copa dela. E dê-lhe árvore, e dê-lhe mar... A viagem foi curta, mas para mim durou uma eternidade. Quanto ao técnico, quando chegamos, o homem estava mais branco que uma folha de papel, incapaz até de falar.

Felizmente, conseguimos fazer o trabalho sem aumentar o número de casos de diarréia. O que já não seria aventura, seria vexame.

* * *

A segunda aventura também ocorreu em viagem. Eu estava em Los Angeles, de onde deveria embarcar para o Japão. Mas, para isso, teria de esperar um dia; resolvi então ir a Disneyland, que não conhecia. Lá chegando, impressionou-me a enorme montanha-russa, talvez a maior do mundo naquele então.

Meus pais eram da Rússia, mas minha afinidade por montanhas-russas era zero. Eu nunca tinha andado naquela coisa, nem tinha a menor vontade de fazê-lo, sobretudo pelo temor de passar vergonha. Mas aquela era a situação ideal para experimentar: afinal de contas, ninguém me conhecia, se fosse o caso eu poderia gritar à vontade. De modo que embarquei num vagonete, onde já estavam três meninos americanos.

Começou a viagem e, Deus, era muito pior do que eu esperava. Subíamos e descíamos vertiginosamente e lá pelas tantas eu tinha a impressão de estar solto no espaço. Devo ter gritado muito porque, quando finalmente chegamos, os garotos me olhavam, impressionados. Imagino que um deles deve ter escrito um relato começando assim: "Da primeira vez que andei de montanha-russa, gostei muito, foi uma coisa divertida. Mas tinha um brasileiro..."

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