As defensoras do aborto - e uso o gênero feminino porque tal defesa se faz muito mais entre as mulheres do que entre os homens - têm motivos para justificar o que pretendem. No entanto, todo crime é praticado por motivos mais ou menos consistentes, que podem servir como atenuantes, e não mais do que isso. O que falta a quem propõe a descriminação do aborto são razões. Nenhum argumento abortista resiste ao confronto com a racionalidade. As estratégias usadas pelas defensoras do abortamento voluntário incluem várias técnicas de mistificação bem conhecidas de quem tenha estudado um pouco de filosofia. Aliás, faço um desafio: apresentem-me qualquer argumento para defender o aborto que eu me comprometo a desmontá-lo. O objeto deste artigo, no entanto, é repassar algumas interessantes considerações que me foram postas por um leitor. Imagine um bebê, recém-nascido, sobre o leito da sala de parto. E imagine o médico mutilando-o lentamente, arrancando-lhe pedaços do corpo até lhe suprimir o último fio de vida. Crime hediondo! Brutalidade incomparável! Contudo, para quem defende o aborto, se isso for feito momentos antes do parto, ou semanas antes do parto, é o exercício de um "direito inalienável da mulher e mera questão de escolha pessoal", a exemplo de uma cirurgia para empinar os seios. Como se vê, aquilo que a natureza criou para ser local de absoluta proteção do feto, o útero materno, se tornou ambiente perigosíssimo. Por outro lado, uma das alegações mais comuns das feministas é a de que "a mulher tem direito sobre o próprio corpo". Lembro-me, a propósito, das sábias palavras do saudoso médico e parlamentar Carlos de Brito Velho, para quem tal direito podia ser exercido em relação ao conteúdo da bexiga e dos intestinos, mas não sobre uma outra vida abrigada no corpo feminino. Pois bem, se esse suposto direito fosse real, na melhor das hipóteses ele somente poderia ser exercido em relação aos fetos do sexo masculino, já que segundo as próprias feministas, os de seu sexo também seriam titulares desse mesmo direito aos próprios corpos. Finalmente, uma sugestão aos que defendem a vida perante o desvario feminista e abortista. Vamos trocar o gênero das palavras utilizadas para definir o ser que habita o ventre materno. Em vez de embrião, zigoto e feto passemos a usar a forma feminina - "embriã", "zigota" e "feta". É bem provável que, perante a nova designação, as feministas se sensibilizem para a natureza do ser que pretendem tornar descartável como se fosse um copo de papel. Nota do Editor: Percival Puggina é arquiteto, político, escritor e presidente da Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública.
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