Li outro dia a crônica "Amor Só De Letras", em que Mario Prata escreve:

"E descobri, muito feliz da vida, que nunca uma geração de jovens brasileiros leu e escreveu tanto na vida. Se ele fica seis horas por dia ali [no computador], ou ele está lendo ou escrevendo. (...) Jamais, em tempo algum, o brasileiro escreveu tanto. E se comunicou tanto. E leu tanto."

Discordo totalmente dele. Depois da internet os jovens criaram um dialeto, e através dele se comunicam no orkut, salas de bate-papo e msn. Até aí tudo bem. O duro é constatar erros absurdos em currículos, entrevistas e testes de redação em processos seletivos.

Tenho ciência que o português é uma língua difícil. Eu mesma cometo vários erros, e emburreci depois do advento do computador em minha vida. E olha que no passado dei vários cursos de português nas empresas em que trabalhei!

Sempre fui a melhor da classe na matéria e desde os quinze anos eu escrevo.

E hoje me atrapalho e ao mesmo tempo dependo do corretor ortográfico do "Word".

E há uma significativa diferença entre a forma que se fala o português e se escreve. Porém, sei que não cometo erros tão graves assim.

Agora o que anda me espantando é a quantidade de erros tanto na forma de falar quanto de escrever cometido nos processos seletivos pelos jovens universitários, advindos de excelentes faculdades.

Cansei de ouvir em dinâmicas de grupo para estagiários de marketing:

- O "criente" sempre tem razão.

O pessoal de RH que não é estagiário e nem sequer iniciante vive a proferir:

- Em se tratando de gente...

- A nível de psicologia...

- Eu, particularmente...

Sem contar os profissionais de telemarketing que são treinados como um computador:

- Senhor, em verificando o seu saldo, constatamos que...

- Senhora, nosso objetivo é estar atendendo da melhor forma possível...

Sei que o "Windows", que é uma ferramenta (ou seja, um meio), usa termos no gerúndio. Incializando, por exemplo. Mas, gente, repetir estes termos como papagaio não dá....ou será naum da (sem acentos, pois eles só complicam a vida!).

Nesta confusão toda entre o que é do computador e o que pertence ao pessoal, e principalmente ao profissional, tem gente se perdendo. Recebo CVs. via e-mail que nem sequer mencionam o assunto nos mesmos. Tem gente que se esquece que hoje em dia é impossível abrir todos os e-mails que recebemos, pois podem ser vírus.

Outros, ainda, colocam "florzinhas" e me mandam um beijaum no corpo do e-mail. Sem contar os "nicks", ou apelidos: gostosinha@hotmail... caraquente@ig... Tem gente que confunde mesmo o que é contexto profissional e pessoal!

Os CVs. anexados aos e-mails contém erros de português absurdos. Recentemente recebi um que constava a palavra "Seguimento". Não que o cara fosse seguidor de alguma religião, ele pertencia ao "seguimento do varejo"!

CVs. com fotos de corpo inteiro, de biquini, e citando altura e peso eu recebo desde que iniciei na área de RH, há mais de 20 anos. Algumas moças devem achar que eu seleciono modelos. Erraram! Já fui convidada para treinar modelos em atendimento, pois já trabalhei em feiras e coisa e tal, mas seleção de modelos não é a minha praia. Portanto, "fotos" são dispensáveis.

Por trabalhar com seleção de executivos, fico perplexa também com o número de palavras em "inglês" que estes profissionais usam. Aliás, as referências dos executivos brasileiros tanto em cursos como nos processos seletivos parecem ser mesmo só os "cases americanos". Como se nós brasileiros fossemos um amontoado de idiotas em matéria de administração. Ao contrário, somos raros, e muito criativos!

Helow! executivos... Estamos no Brasil, com "s" e não "z".

Está mais do que na hora de valorizar a nossa língua, pois se a coisa continuar como está:

Vc nAuM vAi MesssssMo ConSeGuI (também vivem a omitir o "s" e o "r") um TrAmPo. Is now or never. Em se tratando de proficionaú, nóis aqui é muito exijente. Falow!!!!!Beijuuuuuuuus

Nota do Editor: Suely Pavan é colunista da seção Iscas Profissão do site www.lucianopires.com.br, psicóloga, psicodramatista. sócia-diretora da Pavan Desenvolvimento (Treinamento, Coaching de Talentos, Palestras, Avaliação de Potencial) e da Mele & Pavan Recrutamento e Seleção. Professora e Supervisora de Psicodrama da Associação Brasileira de Psicodrama e Sociodrama.